- Olá, Zé - como vai?
- Olá, Pedro - como vai a família? (Como se não soubesse).
Todos respondiam a ele normalmente, como se já o conhecesse, assim como a um qualquer.
Deus passeava tranqüilamente pelas ruas da cidade. Passou na porta de um bar, estava cheio. Ali ele visitou um, visitou outro, cumprimentou um, cumprimentou outro. Logo que ele entrou no bar um sujeito fortudo ofereceu-lhe um copinho de pinga.
- Não tomo nada, meu senhor, e se fosse o senhor não tomaria isto. Isto aí está te matando.
- Mata nada, moço. Eu também sou filho de Deus.
- É... estou vendo.
E assim continuou Deus passeando pelas ruas da cidade. Um movimento grande de pedestres, de carros. Os bares estavam lotados, as lanchonetes estavam lotadas, os circos estavam lotados, os teatros estavam lotados. Nas escolas um monte de crianças obrigadas a assistirem as aulas, nas igrejas alguns poucos ouvindo os conhecimentos religiosos.
Ninguém tinha tempo de cuidar um pouco dos irmãos necessitados. Cada qual estava preocupado consigo mesmo. Uns correndo atrás de dinheiro, outros fazendo mestrados para ganhar mais, outros roubando para ter um pouco mais, mentiras e mortes pra todo lado, estupros e violência aqui e ali. Cada pessoa que Deus via, tinha uma história pra contar. Ainda bem que ninguém ali sabia que Ele era Deus, se soubesse...
Deus passeava tranqüilamente. Foi à rua das indústrias, da feira, das lojas gigantescas. Era uma correria só, ninguém tinha tempo pra nada. Ninguém conhecia Deus, ninguém imaginava como era Deus, mas Ele começou a ficar incomodado. Poucos agradeciam a Deus. Todo mundo estava preocupado com a parte material. Mesmo nas igrejas Deus viu isto. Este povo não estava nem um pouco preocupado com a vida mais além. Era só o aqui e o agora.
De repente a coisa mudou. Deus encontrou um vidente. O moço viu a grande Áura de Deus e ficou espantadíssimo e foi logo dizendo:
- Olá, Deus, você por aqui?
- Vim ver a vida dos homens bem de perto, sentir na carne os problemas humanos.
O vidente pôs-se a falar sobre os problemas do mundo.
- É só problema Deus, o mundo virou um problema só. Veja só o que está acontecendo aqui. Ninguém quer trabalhar, ninguém quer fazer nada, todos querem se divertir, farrear. O mundo tem jeito, Senhor, mas o homem não quer mudar e tem pouco poder.
- O que é que está faltando para o homem se melhorar, moço?
- O homem precisa um pouquinho mais de poder. Se ele tivesse o poder de transformar pedra em comida, em domesticar os animais com um toque de mágica, de acabar com a maldade humana, de ensinar a quem não sabe com mais rapidez, acho que melhoraria muito mais.
- Mas se o homem tivesse estes poderes, meu senhor, poderiam piorar ainda mais o mundo. Fariam tudo ao contrário do mesmo jeito.
- Creio que sim, Deus. Os homens são mesmo enrolados. Mas eu faria tudo certinho, Deus. Se eu tivesse estes poderes mudaria tudo no mundo e as coisas ficariam bem melhores. Que tal o Senhor me nomear como Deus por uns tempos?
- Taí uma boa idéia, meu senhor.
- Então vamos logo lá para o seu palácio. Preciso assumir minhas funções - disse o homem.
- Então feche o olho e abra-o de novo.
O homem assim o fez. Fechou e abriu o olho e se viram em um lugar diferente.
- Pronto, chegamos - disse Deus.
Eles estavam num ponto bem alto. Era um barracão coberto de palha e sem paredes.
O homem assustou-se.
- Mas... e o palácio? Isto aqui é um barraco.
- O que é que você estava esperando. É daqui que eu comando o mundo.
- Eu estava esperando uma coisa melhor. Um palácio luxuoso, cheio de árvores gigantescas, serviçais pra toda obra, piscina... cadê a piscina, Deus, nem piscina tem aqui.
- O céu, meu filho, é um lugar de trabalho. Não é um lugar de descanso. Mas venha, vou lhe mostrar o seu gabinete. É dele que você vai comandar tudo.
Caminharam um pouco e chegaram num cubículo de 3 metros por 3. Tinha uma mesa e uma cadeira somente. Dali dava para se ver tudo, de todos os lados. O homem ficou abismado.
- Gabinete? Isto aqui é um gabinete? Mais parece uma sala de guardar ferramentas.
- É isto mesmo. Guardar ferramentas. As ferramentas do seu trabalho daqui para a frente. Pronto. Aqui estamos. Agora você toma conta de tudo enquanto eu fico descansando aqui na sala ao lado. Você agora é Deus e precisa dirigir tudo. Eu estarei aqui, qualquer coisa me chama, mas vê se não me amole muito a toda hora. Boa sorte!
Deus saiu e foi dormir. O homem começou a contemplar aquilo tudo. Via uma imensidão para todos os lados. Aqui os cometas, ali as constelações, lá as estrelas, ali a via láctea, lá a terra. Olhando todo o universo, de repente sentiu uma queda na cabeça. O universo estava caindo. O homem ficou desesperado. Tentou segurar o universo, mas como? Os planetas começaram a girar diferentes, iam-se chocar. Precisava tomar uma providência. O homem lutou de todas as maneiras e nada. Correu então para Deus:
- Deus, Deus, me acode, o universo está caindo.
-É claro, filho, é preciso cuidar dele. Existe uma série de leis que precisam ser observadas e seguidas para os planetas não se chocarem. Foi lá, ensinou para ele como fazer e voltou a dormir.
O homem não agüentou e pediu as contas a Deus. Não queria mais saber de ser Deus.
É assim que o homem continua dando uma de querer ser Deus e tentar consertar o mundo de um lado e outro, mas comete mais erros do que acerto e por isto estamos vivendo neste belo caos. Mas confiemos no Cristo que disse: “Vós sois pequenos deuses”.
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