(jcl-ribpreto-2006)
Amigos, coloco este tópico no quadro
"espiritualismo" já que contém ensinamentos de Paulo, com quem a
doutrina espírita, aliás, todas as doutrinas cristãs, não simpatizam e
não aceitam muitos de seus ensinamentos.
Infelizmente, as igrejas cristãs não divulgam muitos dos mais
importantes ensinamentos de Jesus. Nelas, ensina-se sobre a vida desse
homem iluminado, mas quase nada sobre aquilo que ele, em seu tempo,
tentou ensinar e fazer com que os discípulos e o povo compreendessem.
Ele ensinou sobre o reino de Deus, enquanto as igrejas cristãs ainda
hoje quase só ensinam sobre sua vida.
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Jesus teve o percebimento de que ele era a própria divindade, ‘eu e
o Pai somos um’. Compreendeu, então, e ensinou que o caminho é para
dentro, para o interior do próprio ser humano, e mostrou isso ao
afirmar, de modo claro, que ‘o eu é o caminho, a verdade e a vida;
ninguém vai ao Pai senão pelo eu’, como igualmente ensinaram outros,
entre eles S. Agostinho ao dizer que, depois de muito procurar por Deus
fora dele mesmo, nas coisas do mundo, foi encontrá-lo dentro dele
mesmo.
Do mesmo modo, Teresa de Ávila dizia ser absurdo
buscarmos Deus fora de nós, nos céus; que devíamos, antes, procurá-lo
dentro de nós mesmos, pois é em nossa alma que o Senhor habita, como
Paulo também falou: ‘O Senhor habita em vossos corações”, “Vós sois o
templo do Altíssimo’.
Jesus ensinou a nos fecharmos em
nós mesmos (nada de fora a nos perturbar) e, em oculto, em segredo, isto
é, em silêncio total, inclusive mental, ‘orarmos’ ao Pai que, em
oculto, ali dentro, nos ouve, mas essa oração não é aquilo que
imaginamos ser.
Como ensinou Teresa de Ávila, santa e
doutora teologal dos católicos, é a ‘oração de recolhimento’, na qual se
recolhem todos os sentidos, lembranças, expectativas, enfim, todas as
operações mentais; se bem realizada, entra-se, espontaneamente, na
‘oração de quietude’, na qual há total silêncio mental; o cérebro, a
mente, cessam sua ação e o ego se afasta. E, quando o ‘eu não é, Deus
é’. O único obstáculo para a aproximação do divino é o ego, com todas
suas idiossincrasias (maneira própria de sentir, de compreender;
lembranças, expectativas, ilusões, crenças, ignorância, remorsos,
emoções, culpas, desejos, medos), que poluem a consciência localizada
(individual), não permitindo que ela perceba a divindade que nela
habita.
Jesus disse: ‘ninguém vai ao Pai senão por mim
(pelo Eu)’, e ‘eu sou (o Eu é) o caminho, a verdade e a vida’, isto é,
no Eu está o caminho, que é, pois, para dentro de nós mesmos; aí está a
verdade e a vida. Ele falou também: ‘não direis que o reino está ali ou
acolá, pois o reino de Deus já está dentro de vós’, como Paulo, que
disse muitas vezes: ‘não sabeis que sois o templo do Altíssimo e que o
Altíssimo habita em vós?’
As igrejas esqueceram esses
ensinamentos e se ativeram à história da vida de Jesus, não transmitindo
as coisas profundas que Jesus tentava ensinar ao povo. No cristianismo
primitivo, o cristianismo dos primeiros séculos, o objetivo primordial
da religião era re-ligar a criatura ao Criador, isto é, levar o ser
humano à união pessoal com Deus. Teresa de Ávila, doutora teologal da
igreja de Roma, ensinava q essa união pode se dar através da ‘oração de
recolhimento’ e da ‘oração de quietude’; por uma extensa gama de
fatores, a igreja, entre outras coisas, esqueceu de ensinar.
Na ‘oração de recolhimento’, a pessoa deve ‘recolher’ (procurar
esquecer) suas faculdades de pensar, raciocinar, sentir, imaginar,
recordar, ter expectativas, imaginações, desejos e emoções, e os
sentidos, pois tudo isso é apenas obstáculo à oração. Se a oração de
recolhimento for bem feita, redundará na ‘oração de quietude’, isto é,
na quietude total da mente e do cérebro, que, então, sem nada que os
perturbe ou ‘polua’, ficam em silêncio. Ocorre, daí, na mente, um total
vazio, com a possibilidade de vir a ser preenchido por aquilo a que
denominamos Deus. Como disse Ken Wilber, ‘o vazio que você vê quando
olha atento para o nascedouro dos pensamentos pode, num relâmpago,
mostrar a Realidade’. E como João da Cruz ensinou: ‘Na escuridão, a
luz’.
A oração de quietude nada mais é que a ‘meditação’
dos tempos antigos e atuais; exige a preparação, que consiste no
recolhimento, ou cessação, sem esforço, de qualquer operação mental.
Cessando o movimento mental, sobrevirá a quietude do cérebro, isto é,
cessa a interferência do ‘eu/ego’ e, como afirma o profeta bíblico,
‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus!’, isto é, quando o ego é afastado de
nossa percepção, o que percebemos é o próprio Deus. Quando ‘o eu não é,
Deus é’. O obstáculo que nos impede a percepção do divino é, portanto,
nosso próprio ego, a nossa mente localizada, com todo o seu conteúdo
condicionado.
Para conseguir esse estado de silêncio, é
necessário que o pensamento, e tudo o mais que passa pela mente, cessem,
e a atenção é fator decisivo para esse fim. A primeira lição de Teresa
de Ávila, às noviças, era ‘atenção! atenção! atenção!’, ao momento
presente, ao aqui-agora, sem lembranças, ressentimentos ou remorsos
acerca do passado, e sem devaneios, sonhos ou expectativas, desejos e
imaginações sobre o futuro. Daí ter Jesus ensinado que ‘a cada dia basta
seu cuidado’ e que não nos preocupássemos com muitas coisas, já que ‘os
lírios do campo e as aves do céu nem fiam nem plantam’, mas têm o
abrigo e o alimento necessários, supridos que são pelo eterno e único
supridor.
Um dos principais ensinamentos do iluminado,
tanto que muitas vezes exorta-nos sobre isso, foi sobre a importância da
atenção. Nesse sentido, a parábola das virgens insensatas; a do servo
fiel, que aguardava a volta do patrão, e outras mais. Jesus enfatizou,
sobremaneira, a realização do reino de Deus (‘buscai em primeiro lugar o
reino de Deus’) afirmando que ele já está dentro de nós (‘não direis:
‘ei-lo aqui’, nem ‘ei-lo acolá porque o reino de Deus está dentro de
vós’); que a percepção dessa realidade é a coisa mais importante que o
ser humano tem a fazer (Jung) (‘o demais vos virá por acréscimo’), tanto
que devemos, até mesmo, abandonar tudo o mais para termos esse
percebimento. Assim, as parábolas do comprador de pérolas e a do homem
que encontrou um tesouro no campo...
Fez ver que esse
tesouro é mais importante que tudo o mais, a nada se comparando, em
particular quando aconselhou a ‘buscar, em primeiro lugar, o reino de
Deus’, porque, encontrado o reino, a iluminação, ‘tudo o mais virá por
acréscimo’.
Disse, também, quando, pregando na sinagoga,
lhe falaram que sua mãe e seus irmãos o procuravam: ‘Quem são minha mãe e
meus irmãos? Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem as minhas
palavras e as cumprem’, isto é, aqueles que buscam e, eventualmente,
encontram o reino de Deus, pois esses seguiram seu conselho, são de sua
mesma natureza, perceberam o que ele percebeu, realizaram o reino em si
mesmos e, desse modo, compreenderam e podem também ensinar aquilo que
ele ensinou.
Também, em afirmações aparentemente
absurdas, disse que para essa busca, se preciso for, devemos ‘abandonar
pai e mãe’ e que ele ‘não veio trazer a paz, mas a espada’, numa
indicação de que aquele que deseja encontrar o ‘reino’ deve se violentar
nos costumes e apegos, e não fazer o que o homem comum faz, porque,
como Paulo ensinou, ‘a sabedoria de Deus é loucura para os homens; e a
sabedoria dos homens é estultícia para Deus’.
Jesus
ensinou, também, que o homem e Deus são um só ser, uma só mente, quando
afirmou que ‘eu e o Pai somos um’, como também Paulo, em suas epístolas,
dizendo ‘já não sou mais eu que vivo, é o Cristo que vive em mim’, que
somos ‘co-herdeiros’ do reino e que somos iguais a Jesus, pois ‘se nós
não ressuscitarmos, nem Jesus ressuscitou’.