SEMINÁRIO: KARDEC - ONTEM, HOJE E AMANHÃ
MÓDULO 01
TEMA: 04.
KARDEC - O CENTURIÃO QUIRÍLIUS CORNÉLIUS
A BÍBLIA
No Evangelho de MATEUS no capítulo 8, versículos 5 a 13, na Bíblia, existem referências da CURA DO CRIADO DO CENTURIÃO. Também, encontramos em ATOS, Capítulo 10, versículos 1 a 48. O CENTURIÃO CORNÉLIO, que tivera um encontro pessoal em Cesaréia com SIMÃO PEDRO, recebendo orientações deste apóstolo do Cristo.
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CORNÉLIUS – O CENTURIÃO QUE VIU JESUS. Livro mediúnico do Espírito J.W. Rochester, psicografado pela médium mineira e brasileira, Maria Gertrudes Coelho Maluf,em Ituiutaba, Brasil, em 1995. Depoimentos às páginas 54 a 64 do mencionado livro.
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A FÉ DO CENTURIÃO
Cornélius ainda se encontrava trabalhando na região da Galiléia. Ele e Antonius, outro oficial amigo, dividiram seus homens, destacando-os em vários postos, de forma que ele pudesse mais livremente voltar a Jerusalém, quando quisesse.
Certo dia, o centurião voltava de Jerusalém para Cafarnaum e um de seus homens que ficara na aldeia estava muito doente.
Chegando em casa, esperava-o a triste notícia de que o seu servo estava à beira da morte.
Um de seus soldados mais estimados contraíra inexplicável doença, que o deixava totalmente paralisado.
O doente, em coma, ainda respirava.
Cornélius lembrou-se de Jesus que curava tantos enfermos.
Seu soldado era tão jovem! Se pedisse ao Mestre, generoso como era!...
Ele não precisava ir até lá...
De onde estava. Ele curaria, tinha certeza.
Assim pensando, Cornélius chamou um dos criados e pediu-lhe:
- Procura saber onde está o Mestre, pois tenho certeza de que Ele irá curar o nosso amigo. Vai até os parentes de Ben Jhamur e participa-lhes a minha decisão de procurar Jesus.
O moço saiu apressadamente.
O caso do soldado era gravíssimo.
Os parentes e amigos da família que residiam em Cafarnaum, tinham muita consideração por Cornélius, que sempre os auxiliava, inclusive na construção de sua sinagoga.
Sem demora, descobriram Jesus numa casa situada perto do lago e enviaram o aviso a Cornélius.
O centurião aguardava, ansiosamente, aquele momento de ver o Senhor e pedir-Lhe socorro para seu subordinado.
Falaria pessoalmente ao Mestre. Não havia dúvidas. Tinha de agir rápido. Bastava informá-Lo
Cornélius depois de examinar o estado do enfermo, vendo que nada mais poderia fazer, partiu ao encalço de Jesus.
O Mestre encontrava-se nas proximidades do lago numa casa rodeado de pessoas.
O centurião, representante de uma autoridade, aproximou-se da casa sendo recebido pelas pessoas com desconfiança, mas alguns anciãos da família Ben Jhamur as tranqüilizaram.
***
Era a segunda vez que o centurião procurava Jesus.
Desta vez envergava a reluzente armadura romana, e ao tilintar dos metais, quando se movimentava, todos silenciaram.
Jesus estava em outro compartimento mais amplo, assentado à tosca mesa de madeira, onde apoiava as mãos. Em volta dele, muitas pessoas dificultavam a passagem.
Os que rodeavam Jesus olhavam, de soslaio, o centurião ali estacado.
***
Irresistível comoção apoderou-se dele, teve ímpeto de se atirar a seus pés e beijá-los, mas conteve-se.
A imagem do amigo que jazia no leito deu-lhe forças para abordar o Senhor.
Os anciões o acompanharam ansiosos, pois, apesar do centurião ser um homem bom e temente a Deus, era também um gentio.
Cornélius venceu a emoção e dirigiu-se ao Mestre com profundo respeito, fitando-o vivamente com seus olhos castanhos:
- Senhor, meu subordinado está em casa, jaz de cama, paralítico e sofre muito. Receio que venha a morrer, subitamente. Podes salvá-lo?
Os judeus que conheciam Cornélius, receosos de que Jesus não o atendesse por ser ele gentio, anteciparam-se:
- Mestre, ele merece que seu pedido seja atendido, pois quer bem ao nosso povo e edificou nossa sinagoga.
Outro ancião dos judeus redargüiu:
- É pessoa que merece teu favor.
Jesus, sem dar-lhes atenção, continuava olhando o centurião, amorosamente. Parecia identificar algo especial nele.
Cornélius sentiu-se aquecido, como se tivesse recebido um calor que tonifica e acalma ao mesmo tempo.
Da figura majestosa de Jesus parecia que se desprendiam raios de luz, causando-lhe uma sensação de suprema felicidade, como se entre os dois se estabelecesse uma profunda ligação.
O Mestre, então, disse-lhe, simplesmente:
- Eu irei e o curarei.
Cornélius estava trêmulo de emoção e felicidade, mediante a reposta e a deferência que Jesus prestava a ele, um pobre centurião.
Tantas pessoas ali querendo ouvi-Lo!... E ele monopolizava a atenção do Mestre...
Não era digno de recebê-Lo em sua casa. O Mestre estava ocupado e não lhe queria dar trabalho.
Vencendo a timidez, disse-Lhe:
- Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e meu criado será salvo.
O Mestre ouviu-o, em profundo silêncio.
O centurião engoliu em seco e continuou desconcertado:
- Eu, também, sou um homem sujeito a outro, tenho soldado às minhas ordens e digo a um: Vai acolá, e ele vai; e a outro: Vem cá, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz... Não é necessário ir até lá, Senhor, basta ordenares.
Leve sorriso expressou-se no semblante magnífico do Mestre, por aquela demonstração de inteira confiança.
Dirigiu ao povo expressivo olhar, e voltando-se para Cornélius, disse com profunda admiração:
“ Em verdade, vos digo: Não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel.” Matheus: 8: 5 a 13. E naquela mesma ora o servo foi curado.
Os judeus entreolharam-se constrangidos, porque eram israelitas e consideravam Cornélius um estrangeiro.
Os judeus, que acompanhavam o centurião, abaixaram suas frontes, envergonhados.
Então, Jesus dirigiu-se a todos:
- Por isso eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes. Matheus: 8: 11 a 13 – Os filhos do reino significam: os que estão reservados aos primeiros lugares, porque se fazem servos de todos, enquanto que aqueles que se orgulharem de sua condição e de seu saber, não alcançarão o reino de Deus, e serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá pranto e ranger de dentes (Jesus).
Todo acontecimento em volta de Jesus servia de nova lição para quem tivesse ouvidos de ouvir e olhos de enxergar.
A multidão ouvia-O, sem compreender o profundo alcance de Suas palavras.
A presença do centurião, naquela casa, sem dúvida, era motivo de grande destaque e por isso o número de pessoas ao redor do Mestre havia aumentado.
Depois, Jesus virou-se para o centurião e ordenou-lhe:
- Vai, seja feito conforme a tua fé.
Cornélius estava radiante de felicidade, era aquele o seu segundo encontro com o profeta.
O olhar de Jesus pousara, significativamente nos seus e seu coração inundou-se de gratidão e suprema felicidade.
Lágrimas discretas desciam pelo seu rosto.
As palavras de Jesus caíram-lhe n’alma como se fizessem brotar nela a árvore da vida.
Ele sabia que enquanto vida tivesse jamais se esqueceria daquele momento e da divina ordem que Ele lhe transmitira.
O Mestre, amorosamente o convidara, a ele um miserável centurião... Que nada representava, comparado à sua majestosa realeza: - VAI E FAÇA-SE SEGUNDO CRESTE..-
A predicação do Mestre era para ele um roteiro divino a ser seguido.
Aquele calor que o envolvera animava-o, dando-lhe vida nova.
Ali estava o batismo que poucos compreendiam.
Este sim, era o verdadeiro batismo. As palavras do Mestre causaram-lhe a mais profunda transformação moral.
Era como se sua alma houvesse recebido a libertação e ao mesmo tempo se prendia a Ele para sempre.
Jesus aliciara para seu rebanho de amor um de seus mais lúcidos discípulos.
Quisera deixar tudo, suas pobres armas e seguir o ímpeto de seu coração, porém, algo lhe dizia, no recôndito de sua alma:
- “ESPERA.!”
... E esta voz parecia-se com a do Mestre amado.
O DISCÍPULO
Cornélius, movido por intensa alegria, experimentava fortes e santas emoções, nunca antes sentidas.
Carfanaum tinha para ele, agora, um sentido diferente.
O Mestre havia se comunicado com ele, novamente. Sentia-se preso, totalmente subjugado por Ele.
Recolheu-se emocionado.
Havia recebido a maior graça da sua vida.
Olhou a paisagem, feliz, avistou o lago de Genezaré cujas ondas serenas resplandeciam ao sol da tarde.
Entre ele e seu Senhor, estabelecera-se uma estranha intimidade, como se agora tivesse parte com ELE. Aquele episódio marcante tocara as fibras mais profundas de sua alma.
Suave perfume o envolveu e leve brisa tocou-lhe o rosto.
Aquela paisagem singela e, ao mesmo tempo incomum, haveria de fixar-se eternamente, em sua mente.
As árvores e o perfume das flores... Como esquecê-los?
Nunca mais o lago de Genezaré lhe pareceria tão formoso!
Ele nunca mais seria o mesmo, após ter recebido do Senhor, aquela imensa prova de confiança.
Sentiu-se parte de um todo, cujo centro era o Mestre.
Cornélius entrou em casa e seu servo o aguardava, completamente curado.
Na sua casa a felicidade era contagiante.
Depois do significativo episódio com que fora agraciado, o centurião tencionava seguir a Jesus.
Deveria voltar à Judéia, após terminar sua tarefa na Galiléia.
Em Jerusalém, ficaram seus familiares.
Sua hora não havia chegado.
E assim, enfrentou, com seus soldados, várias missões, em diversas regiões na Palestina e adjacências.
DEPOIMENTO DE CHICO XAVIER SOBRE O LIVRO DE ROCHESTER. – CORNÉLIUS - O CENTURIÃO QUE VIU JESUS!
Na noite de sábado, no dia 14/06/97, fomos à casa de Chico Xavier presenteá-lo com o Livro “Cornélius o centurião que viu Jesus”, Chico Xavier, que desconhecia a existência do romance, ao ver a capa, olhou-a demoradamente e contou para os presentes a história da cura do filho do centurião. Suas palavras muito nos esclareceram, pois, guardavam a certeza de que o servo do centurião, assim, denominado no romance, por ser ele filho de uma judia, na verdade, era filho de Cornélius, do modo que Rochester havia me intuído.
O Médium Chico Xavier disse, nestes termos:
- Olha aqui, seu livro. Olha que beleza, o centurião que viu Jesus. Este centurião tinha um filho, ele tinha um filho, morava, morava em Cafarnaum. O filho estava em agonia, doente, com perspectiva de morte. E ele foi a Jesus. Pediu a Jesus pelo filho.
O senhor crê é fácil.
Senhor, eu creio, ajuda a minha incredulidade..., Quer dizer que muitos de nós falamos que cremos, mas na hora do testemunho nós falhamos. É a tentação. A religião é que nos ajuda a vencer a luta da vida. Assim como nós cuidamos do trânsito, nas cidades, fazemos regimes, leis para o trânsito, nós temos o trilho da vida, às vezes, chocamo-nos um com os outros.
- Olha que beleza de Livro. O título já fala. O Centurião que viu Jesus!
Ele viu e foi sincero.
Jesus falou:
“... Seu filho vai voltar à vida. Vou ler seu livro com muito amor”. Rematou Chico Xavier à sua autora, Maria Gertrudes Coelho, no Livro Chico Xavier Coração do Brasil, a mesma autora do Livro –Cornélius - O Centurião que viu Jesus.
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HERCULANUM – No Livro ditado pelo Espírito J. W. Rochester, pela Médium mecânica Russa, Wera Krijanowskaia. Depoimentos de Quirílius Cornélius, que adotara o pseudônimo de Pai João, nos últimos anos de sua vida, na sua comunidade cristã, em Roma, nas proximidades de Nápoles, no período da erupção do Vesúvio, nos anos 79.
Neste romance aparece, também, o personagem de Cáius Lucílius, patrício Romano, que fora atendido na comunidade Cristã de Pai João, e que se tornara seu discípulo, após a erupção do Vesúvio. Segundo as informações do Espírito Rochester, Cáius Lucílius, reencarnado, na época é o retorno do Faraó Mernéphtah, o Ramsés II,agora, em nova experiência reencarnatória, em Roma antiga, reencontrando-se com o seu Mestre o Sacerdote Amenóphis (Quirílius Cornélius) e que com este vivera emTebas, no antigo Egito, e era o Sacerdote no Templo de AMOM. Depoimentos registrados no citado romance às paginas 185 a 196.
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Conta Pai João, o eremita (Quirílius Cornélius) a Cáius Lucílius.
- Trata-se de um passado que vai muito longe e antes que o retrace importa, para maior clareza, falar-te da minha pessoa. Meu pai foi soldado e, com tal, freqüentemente se ausentava do lar. Minha mãe, com meus irmãos habitavam a casa de meu avô, rico e sábio filósofo, de sorte que tive uma juventude relativamente feliz e despreocupada de maiores cuidados. Inteligente e vivo, meu avô muito se interessava pela minha educação e tal era a facilidade de minha compreensão, que ele chegou a afagar o projeto de me fazer um sábio. Meu pai, porém, pensava de outra maneira e cedo tive de abraçar a carreira das armas. Fiz o meu primeiro estágio em Massília, nas Gálias, sob o comando do teu avô e dali fui destacado para Jerusalém, na Judéia, província governada por Pôncio Pilatos. Preciso é dizer-te que o cargo de governador da Judéia não era isento de perigos e dificuldades, máxime para homem orgulhoso e violento qual Pilatos, visto tratar-se de um povo turbulento e fanático como seja o povo Judeu. A mais leve das faltas, o menor descuido administrativo, eles os judeus, denunciavam diretamente ao Imperador, muito embora não deixassem jamais de conspirar e sonhar a restauração da sua soberania política. Compreendes que, em tal país e com tal gente, era preciso ter argúcia e olho vivo. Pois bem: à Providência divina aprouve decorresse dessa contingência, para mim, o ensejo de conhecer o SALVADOR e se operasse a minha conversão.
Já te disse que eu era mais instruído que os meus camaradas. Sobretudo, eu tinha grande facilidade em aprender línguas, circunstância que de muito me facilitava o serviço e as minhas relações com os nativos dos países que percorria.
Em Jerusalém, ocupava um cômodo na casa de um Galileu (Ben Jhamur), honesto e pobre homem carregado de numerosa família. Uma das suas filhas, bela rapariga, agradara-me extremamente. Considera que eu estava, então, na flor dos anos e tinha a cabeça povoada de mundanas ilusões. (Disse-o como que emocionado à revocação daquelas reminiscências.)
O fato é que, para melhor me entender com Abigail, tratei de aprender mais ràpidamente o seu dialeto que não era o puro hebraico, mas, o geralmente linguajado pelo povo (aramaico). Foi em casa daquela boa gente que ouvi pela primeira vez falar de Jesus. Eles o tinham visto por ocasião do seu regresso a Jerusalém e testemunharam de visu a cura miraculosa de vários doentes, ao mesmo tempo em que referiam às suas prédicas, possuídos de entusiástica veneração.
Interessei-me, desde logo, por aquela personalidade, até que um dia fui chamado pelo meu comandante, que me disse: “Quirílius Cornélius vou confiar-te um trabalho secreto, que o teu conhecimento da língua popular tornará mais fácil: parece que há mais de dois anos um homem de Nazaré, chamado Jesus, anda a percorrer em todos os sentidos a Galiléia e as províncias limítrofes, pregando uma nova doutrina, curando enfermos e fazendo outros milagres. Nada disso me interessa nem me preocuparia se não houvesse recebido do Sumo-Pontífice um aviso secreto, que denuncia nesse homem propósitos políticos, por isso que se inculca descendente de antigos monarcas e pretende ser aclamado rei de Israel. Torna-se, pois, indispensável averiguar a veracidade destes boatos. Procura disfarçar-te da melhor maneira e penetrar nessas assembléias, e não te será difícil encontrares o profeta entre a multidão, que, dizem, o segue por toda a parte. Quando estiveres de tudo bem inteirado, far-me-ás um Relatório.”
Satisfeito com aquele mandato que me vinha ensejar a satisfação da minha curiosidade, entrei em casa e logo, ali mesmo, soube que o profeta de Nazaré não estava longe da cidade. A meu pedido, um irmão de Abigail prestou-se a conduzir-me ao sítio indicado. Tratei de me disfarçar quanto pude e partimos tarde, a fim de aproveitar o frescor da noite.
Seguindo informações dos transeuntes, atingimos finalmente uma colina em cuja encosta se grupava, pitorescamente, uma turba considerável. Assentados uns, outros de pé e alguns ajoelhados, todos pareciam possuídos de uma mística exaltação. No centro do semi-círculo, encostado ao tronco de uma árvore, estava um homem de mediana estatura, cingindo alva túnica, com um manto escuro.
Embrenhei-me na multidão, procurei colocar-me do melhor modo possível para ver e ouvir o pregador, mas logo ao primeiro golpe de vista, diante daqueles traços fisionômicos, finos e regulares, bateu-me o coração emocionado. De fato, o que tinha diante de mim era uma personalidade única, inconfundível, a irradiar um encanto e fascínio irresistível. Sedosos, anelados, castanhos cabelos rolavam-lhe pelas espáduas, moldurando um rosto pálido, levemente tostado pelo Sol; a boca se lhe desenhava em plissura sintomática de energia, mas, de energia temperada de bondade indefinível. Diga-se, porém, que o que mais impressionava eram os olhos de um azul profundo, com tonalidade de safiras e uma agilidade de expressão que parecia torná-los cambiantes, como se fôssem ora negros e fulgurantes, ora azuis e macios, da maciez azul da abóbada celeste. Discorria sobre a imortalidade da alma, falava da frivolidade dos gozos terrenos e das delícias que constituem o patrimônio dos pobres, dos sofredores, no Reino do Pai celestial. Não me sinto capaz de lhe reproduzir as palavras, que ser algum, também, pudera dar ao verbo aquela sua eloqüência divina que comovia e consolava; a magia daquela voz que mergulhava nas camadas mais íntimas do povo, e cujas modulações e ressonâncias timbravam todas as fibras da alma.
Empolgado, subjugado, ouvia-o com avidez crescente, admirado em meu foro íntimo de como pudesse uma tal criatura ser considerada perigosa, de vez que o desprendimento por ele predicado só poderia tornar os homens desambiciosos e humildes.
Naquele momento, a mim mesmo se me figurava inútil a vida, desde que não tendesse para uma finalidade celeste, qual a descrevia e inculcava. Terminada a prédica, a turba se adensou e comprimiu em torno do Mestre, vários enfermos lhe foram apresentados e eu vi, com estes olhos, que uma criança paralítica das pernas foi, ao colo da mãe, instantâneamente curada a um só contacto seu... Depois, começou a debandada e Ele, seguido de uns poucos homens (que me disseram ser os discípulos), desceu pela encosta da colina. Ao passar rente comigo, deteve-se de súbito e mergulhando no meu o seu olhar profundo, de expressão indizível, murmurou baixinho: Centurião renuncia à tua tarefa, já que minha palavra penetrou teu coração; justo, hás-de ser comigo, e convence-te de que os que insinuaram ao teu chefe que me vigiassem, têm em mira outra coisa...
Seguiu, esboçando ligeiro sorriso, deixando-me petrificado. Seria um feiticeiro? Ou seria um Deus que adivinhava meus pensamentos e desvendava, através do disfarce, a tarefa que ali me conduzira?
Intimamente conturbado, regressei a Jerusalém, e no meu relatório afirmei que, a meu ver, a predicação daquele homem de modo algum atentava contra a segurança e a paz do Estado, antes pelo contrário, tendia a destocar dos seus discípulos quaisquer ambições mundanas.
Ao ler esse relatório, meu comandante sorriu, dizendo: ainda bem que me não enganei; é apenas uma questão de melindres pessoais, de sacerdotes e fariseus a quererem fazer deste censor dos seus abusos um inimigo do imperador.
Daí por diante, comecei a sentir um vivo interesse por Jesus e pela sua doutrinação. Não mais o perdi de vista. Tive ocasião de ouvi-lo ainda algumas vezes, sempre que mo permitiam o serviço e as circunstâncias. Ouvindo-o, convenci-me de que era um grande reformador, que proclamava a igualdade, condenava a injustiça, a opressão do fraco pelo forte, e apelava para a consciência do homem, no intuito de o elevar e um nível moral superior.
Assim passaram alguns meses. Aproximava-se a Páscoa dos Judeus e eu não podia cogitar da pessoa do Mestre, tomado todo o tempo com o serviço, pois além da afluência de peregrinos que vinham celebrar as festas, também o procônsul Pilatos fora a Jerusalém e não faltavam trabalhos extraordinários.
Uma noite entrando em casa, fatigado, notei surpreso que Abigail me esperava e tinha os olhos vermelhos de muito chorar. Contou-me, então, que seu irmão mais velho, de guarda ao templo, viera apressado dizer-lhe que um grande perigo ameaçava o bom profeta de Nazaré. Era o caso que, dias antes, ao entrar na cidade, fora ele recebido e aclamado com palmas e flores, por toda uma multidão em delírio. Os sacerdotes e fariseus, furiosos e despeitados com o evento daquelas ovações a um homem que, a seu ver, desobedecia aos seus mandamentos e nem guardava os sábados, tramavam-lhe a perda e, nesse propósito, já se haviam combinado com um dos discípulos, pois David (assim se chamava o irmão de Abigail) vira por duas vezes um deles acercar-se do Grande Sacerdote e presumia que, naquela mesma noite, o profeta seria preso. Onde, não o sabia ele dizer. Amando a Jesus e sabendo que também eu o admirava, David viera preveni-la, na persuasão de que com o meu auxílio se pudesse ainda a tempo avisar o Mestre para que fugisse.
Essas notícias amarguravam-me profundamente. Aliás, também ouvira falar daquela entrada triunfal em Jerusalém, mas não ligara ao evento conseqüências pessimistas.
Grato me fora poder, na emergência, salvar aquele homem de bem, cuja vida valia um programa de obras caritativas; mas a verdade é que não tinha a menor idéia do sítio em que poderia encontrá-lo, naquele momento.
E o grande caso é que não pude dormir toda a noite, afigurando-se-me diante dos olhos a sua fisionomia serena e caroável. Em vão excogitava um meio de poder salvá-lo e, mal despontava o dia, abalei a correr para o palácio do procônsul. Esperando lá encontrar David, dei volta ao templo, que não ficava longe, e junto à porta que dava para a sala do pontífice, encontrei efetivamente o rapaz, que me informou da prisão e imediato julgamento de Jesus, já “a caminho do pretório, para a confirmação de Pôncio Pilatos”.
Nessa altura, o eremita calou-se e procurava enxugar as lágrimas que lhe corriam pela face.
Perguntou Cáius Lucílius ao Pai João?
- E foi condenado o inocente? Como pôde Pilatos sancionar uma tal iniqüidade?
- Decretos da Providência, filho... Escrito estava nos astros, desde os primórdios do mundo. O procônsul bem que tentou salvá-lo, mas o povo, cego e fanatizado pelos sacerdotes, não lho permitiu. O divino mensageiro do Pai celestial houve mesmo de ser ultrajado, flagelado e condenado a morrer na cruz. Eu já admirava e amava a Jesus; mas, à vista da sua paciência, doçura e sobre-humana majestade, com que suportava todos os martírios, haveria de ligar-me a ele irrevogàvelmente, de sorte que, por salvar-lhe a vida, daria mil vezes a minha própria vida.
Pronunciado a sentença, o preso foi confiado à minha guarda, até o instante em que devia partir, com dois outros condenados, para o lugar do suplício. Para passar as poucas horas que lhe restavam, fí-lo recolher a um compartimento que dava para o pátio, no qual permanecia a escolta. Fingindo rigorosa vigilância, postei-me à porta do compartimento e acabei, finalmente, por lá entrar. Foi então que vi Jesus ajoelhado junto a um banco de pedra, todo absorvido em prece fervorosa. Seu rosto pálido, macerado, estampava os sofrimentos atrozes que lhe haviam infligido.
- Mestre - disse, aproximando-me -, não posso conformar-me que, sendo tu bom e tão puro, pereças assim de morte infamante... Deixa-me salvar-te, toma a minha armadura, este manto e esta chave; abre a portinha que ali vês e que dá para um estreito corredor, ao fim do qual te encontrarás numa viela deserta; dali irás a minha casa, onde moram pessoas dedicadas que te facilitarão a fuga da cidade... Deixa-me morrer em teu lugar, porque a vida de um soldado obscuro não vale a de quem, como tu, é providencial e benéfica aos enfermos e desgraçados...
Ele se levantara logo às minhas primeiras frases e seu rosto transpirava uma calma celeste... Olhava-me com um velado olhar de melancólica doçura e assim falou:
“ - Agradeço-te e muito aprecio o teu devotamento, mas, não posso aceitá-lo. Acaso consideras menor o meu sacrifício, se houvera de permanecer neste mundo em que me é tão difícil praticar o bem? Não, amigo, eu não deploro a minha sorte, a mesma que tiveram os profetas, que me precederam, mortos, pelos homens. Mas, não suponhas, também, que eu desdenhe o sacrifício da tua vida (parou com os olhos no vácuo, dando à fisionomia uma feição singular), pois tu hás-de morrer por mim e estou a ver as chamas da fogueira que te espera... Mas, isso não será por agora...”– E, como se quisesse rechaçar longínqua visão, esfregou os olhos e concentrou-se.
- Que dizes com isso, meu Pai João (Quirílius Cornélius)! Será que estejas mesmo fadado a morte assim horrível? – atacou Cáius..
- Filho, certa feita cheguei a crer-me destinado à glória do martírio, quando milhares de irmãos tombaram imolados à sua, à nossa Fé; e foi quando tive um sonho profético que me assinalou essa glória para uma existência futura (A reencarnação de Jan Huss, queimado em Constança, em 1415). Deixa-me continuar.
- Concentrando-se um instante, lembrando-se de Jesus, disse:
- Vejo que me pertences, que minhas palavras te tocaram o coração, e assim vou, por um sinal, incorporar-te à comunhão dos crentes...
Tomou de uma bilha que ali estava sobre um banco, enquanto eu me ajoelhava tirando o capacete.
Em nome do Pai celeste, criador e senhor de todas as forças do corpo e da alma, eu te franqueio a fonte da Verdade, para que prossigas proclamando-a aos deserdados da Terra...
E assim falando, derramava a bilha sobre minha cabeça.
Senti um calor benéfico, um indizível bem-estar a invadir-me todo o corpo. Levantei-me, beijei-lhe a túnica, mas, nesse instante, vi que ele empalidecia e como que vacilava.
- O espírito é forte mais a carne é fraca - disse, procurando assentar-se e sorrindo com tristeza -, nada obstante, quero dizer ao último dos meus discípulos algumas palavras de ensinamento (Quirílius). Eu tive por missão lembrar à Humanidade que o bem-estar do corpo deve subordinar-se à felicidade do espírito. A vida terrena é apenas uma etapa no caminho da perfeição. Não na conceitues, portanto, esta vida corporal, senão pelos benefícios que fizeres; perdoa aos teus inimigos, por isso que o ódio só pode ligar-te, maiormente a eles; e ora sempre com fervor, pois a prece te unirá à divindade e te fará esquecer as misérias mundanas, clareando teu espírito e fortalecendo-o para que possas pagar o mal com o bem.
Esses que agora me condenam e contra os quais te revoltas no imo do teu coração, assim procedem porque não me compreendem; e os sacerdotes só me odeiam porque lhes censuro os abusos, sem quererem reconhecer que o meu ensino só poderia abrandar os corações e encher e dignificar os templos.
Esse estado de coisas ainda perdurará por séculos e séculos... (Seu olhar parecia embeber-se em quadros longínquos). A semente que espalhei germinará em lutas, mercê das quais progredirão uns e fracassarão outros. Sim! Milhões de homens hão de tornarem-se meus filhos, ovelhas do meu rebanho, mas, também, quanta crueldade e massacres se consumarão em meu nome! Quanto sangue há de correr em nome de quem proclama a igualdade à face do Eterno, cujo amor se estende a todas as criaturas! Aqueles mesmos que ora me renegam, hão de proclamar-me entre martírios, e tempo virá em que as minhas palavras hajam de ser adulteradas, repelidas e esquecidas de muitos povos, cuja fé vacilará. Será então, quando lhes enviarei o Espírito de Verdade e a cortina que barra a pátria da alma se rasgará: os mortos ressuscitarão e falarão aos homens por diversos meios. Outras coisas quisera ainda dizer-te, ms teu espírito não está preparado para compreender-me.
- Mas a morte infamante que te aguarda não te intimida, Mestre? A mim se me enregela o coração só no imaginá-la.
As lágrimas sufocavam-me.
- Pastor do rebanho todo, desde o dia da criação deste mundo expiatório, a mim me compete esclarecê-lo e selar com o próprio sangue as verdades que predico. Tal é a vontade do Pai.
- Um barulho de vozes no corredor interrompeu nossa entrevista. Apressei-me em sair e vi, com surpresa, uma mulher ajoelhada em atitude de súplica aos soldados. Não era jovem, mas o semblante pálido e agoniado revelava vestígios de uma formosura que deveria ter sido deslumbrante.
- Quem é e que pretende essa mulher? – perguntei, aproximando-me.
- É - respondeu um soldado - a mãe do condenado, que pede licença para entrar e falar com ele.
Os olhos dela me fixaram com tal expressão de angústia que tive calafrio.
- A justiça - disse-lhe gravemente - condenou o culpado, que poucas horas terá de vida; mas a lei não impede a mãe de ver e despedir-se do filho; apenas,para que ela não vá transmitir ao preso qualquer mensagem suspeita, eu próprio assistirei à entrevista.
- Ela ergueu-se cambaleante, penetrou na prisão, onde sempre assentado, o Mestre continuava como que absorvido em prece ardente. Ao avistá-lo, a mulher deu um grito abafado e começou a chorar copiosamente.
Jesus estremeceu e reconhecendo-a ergueu-se, abriu-lhe os braços.
- - Mãe! Minha pobre mãe!
Ela precipitou-se para ele, em soluços convulsos, deixou pender a cabeça no seu peito. Ele, por sua vez, contemplou-a por momentos, com amor e tristeza indefiníveis; depois, ergueu-lhe a fronte e mergulhou nos olhos maternos um olhar radioso como jamais existiria na Terra:
- Mãe, como o fizeste?... Instruí-te, contigo reparti minha ciência, a fim de que esta hora te fora menos dolorosa; tu me entendeste, tu me acreditaste e, contudo, choras e sofres neste transe decisivo... Dir-se-ia que a morte te apavora, quando bem sabes que a nossa separação será apenas momentânea. Dar-se-á que tenhas perdido a fé ?
Como que reconfortada, a mulher perfilou-se e, tomando a mão do Mestre, beijou-a:
- Não filho: hei de conformar-me, quero mostrar-me digna do filho que tenho, seguir-te-ei até ao fim.
Em assim falando, enxugou os olhos, voltou-se para mim e disse com doçura e firmeza:
- Permite-me, Centurião, que o acompanhe ao lugar do suplício? A plebe tem, creia, esse direito. Não consintas que os teus soldados me rechassem de junto da cruz, pois quero consolá-lo nestes cruéis momentos.
- De acordo - respondi emocionado - e o que lastimo é nada mais poder fazer a teu favor.
- Soou, finalmente, a hora de cumprir o meu dever, que nunca me houvera sido tão doloroso: em marcha o tétrico cortejo, notei que a mãe do Senhor nos seguia, cambaleante, amparada por um dos discípulos...Chegados ao Calvário, dei as ordens necessárias, mas, enquanto gemiam os martelos, desviava o olhar, porque aquelas pancadas lúgubres como que me percutiam o coração. De repente, levantei a vista e vi que acabavam de aprumar a cruz! Foi, então, que, ao cruzar com o meu, profundo olhar do Mestre parecia dizer-me: - “É assim que devemos morrer!”.
As horas seqüentes foram assaz penosas; o calor era simplesmente sufocante e a turba se comprimia em torno dos supliciados, tomada de estranha exaltação; gritava-se, altercava-se, não raro precisavam os soldados intervir a chanfalho para manter a ordem.
Por volta das dezoito horas, o céu encobriu-se de nuvens negras e um trovão ainda longínquo fez estremecer o solo. Levantei a cabeça e tive a impressão de me haver dementado; pareceu-me que a escura abóbada celeste se rasgava para deixar sair do seu bojo milhares de seres alados, que emitiam uma luz dourada... Em massas compactas, precipitavam-se, rodeavam o madeiro, que, por sua vez, aclarado de raios multicores, era como um sol resplandecente... Naquele oceano de luz, rodeado de seres imateriais, a contemplá-lo radiantes e plenos de amor, O Mestre me apareceu não mais o mártir crucificado, mas o ser divinizado, luminoso também ele e de olhos fitos no céu, em beatitude de eternidade e de glória.
Trêmulo, estupefato, olhei em torno de mim e percebi a mãe do Mestre ajoelhada, braços estendidos à cruz. Considerei, pela atitude estática que lhe transfigurava o semblante, houvera tido, também, a mesma visão.
Quando de novo me voltei, o quadro luminoso desaparecera inteiramente, o céu continuava negro, sulcado de relâmpagos, os trovões se repetiam abalando terra e céus. A multidão apavorada com as trevas e a violenta tempestade debandava aos gritos e eu mesmo não sosseguei, enquanto a chuva torrencial não veio lavar a atmosfera.
***
Cáius, que até então bebera àvidamente, de faces incendidas, as palavras do eremita, exclamou:
- Não te lastimes, meu amigo, meu paternal amigo, pois também eu já compartilho a tua veneração por esse homem extraordinário; mas, dize-me uma coisa: onde é que Jesus, de uma origem tão humilde, adquirira o grande saber e a sublime eloqüência com que dominava os corações?
- A sua origem divina manifestou-se no berço, justamente por uma sabedoria que ultrapassava a sua idade, e isso em todas as fases da sua vida. Entretanto, eis que ouvi a respeito: depois daquela conversa com o Mestre, tive o ensejo de, por intermédio de um dos discípulos, travar relações com um judeu rico e ardoroso adepto da nova doutrina, a propósito desta mesma pergunta que ora me fazes.
Pois bem: esse homem contou que o Mestre, ainda criança, veio a Jerusalém pela Páscoa e tendo, por acaso, se intrometido entre os doutores, a todos surpreendeu por suas dissertações e raciocínios, inconcebíveis na sua idade. Entre esses doutores encontrava-se um velho rabino de Alexandria, abastado e sábio homem, que se interessou pelo menino precoce e veio proporcionar-lhe mais tarde uma viagem àquela cidade, a fim de se instruir. A morte do velho o impediu de facultar a Jesus uma posição independente, mas, ainda assim, ele viajou pela Índia e só regressou a Galiléia (1), dois ou três anos antes de começar a sua predicação. Sendo ele, ao demais, muito discreto, nenhum dos discípulos conhecia os pormenores da sua vida, nesse período que passou longe da pátria. Sua mãe, essa, não poderia ignorar, mas, a verdade é que também se conservou muda a respeito. Nesse momento encerrou-se o diálogo. (1) OS CAPÍTULOS I e XII – “A Caminho da Luz” de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, nota da Editora (FEB), em 1975.
VIVÊNCIAS EVOLUTIVAS DE ALLAN KARDEC
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, João Ferreira - A Bíblia Sagrada, Brasília-Brasil, Sociedade Bíblica, 1969.
CHINELLATTO, Thais Montenegro - O Espírito da Paraliteratura, (Tese de Mestrado sobre a obra psicográfica de Rochester). São Paulo, Editorial Espírita Radhu, 1992.
COELHO, Maria Gertrudes - Chico Xavier Coração do Brasil, Araguari, MG-Brasil, Lírio Editora Espírita, 1a. Edição, 1998.
MALUF, Maria Gertrudes Coelho - Cornélius O centurião que viu Jesus! Araguari, MG-Brasil, Lírio Editora Espírita, 6a. Edição, 1998.
ROCHESTER, J.W. - Herculanum, Rio de Janeiro, FEB, 8a. Edição, 1987.
XAVIER, Francisco Cândido/Emmanuel - A Caminho da Luz, Rio de Janeiro-Brasil, FEB, 9a.Edição, 1978.
PESQUISAS DE:
João Batista Cabral
Presidente da ADE-SE-Associação de Divulgadores do Espiritismo do Estado de Sergipe-Brasil.
Fone: 021.31.79.217.4228
Aracaju-Sergipe-Brasil
Em: 30.03.2004
SEMINÁRIO: KARDEC – ONTEM, HOJE E AMANHÃ
MÓDULO I
TEMA - 03. KARDEC - O SACERDOTE DRUÍDA
Léon Denis o eminente escritor Druida, reencarnado, conta-nos em suas diversas obras das ligações históricas e espirituais do Druidismo com o Espiritismo. Realmente, vamos encontrar na Revue Spirite, um longo artigo intitulado ESPIRITISMO ENTRE OS DRUIDAS. Coube a este escritor desenvolver esse estudo em várias partes de suas obras como em: Joana d´Arc- Médium. Depois da Morte. O Mundo Invisível e a Guerra, culminando com o Gênio Céltico e o Mundo Invisível.
No Brasil, poucos escritores trataram desse assunto, como por exemplo: Bezerra de Menezes no livro a Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica; Pedro Granja, no livro, Afinal, Quem Somos; Wallace Leal, no prefácio de sua tradução, Léon Denis na Intimidade; Herculano Pires, na obra, O Infinito e o Finito e Eduardo Carvalho Monteiro, no seu extraordinário livro, Allan Kardec, O Druida Reencarnado.
CELTAS E DRUIDAS
Os celtas foram um dos grandes povos da Europa nos anos 600 a 50 a.C, do norte dos Alpes, espalharam-se para o leste e oeste da Anatólia (atual Turquia), até a Espanha e Grã-Bretanha.
Apesar de suas tribos viverem em constantes conflitos, César conquistou os seus territórios para Roma em 52. a.C., e os celtas estavam empenhados numa unificação nacional. Caso a tivessem materializado dificilmente teriam sido subjugados pelo inimigo. As tribos celtas, uma a uma, foram absorvidas pelo Império Romano, com exceção das que habitavam o extremo Norte da Escócia e da Irlanda. Nessas regiões, o antigo modo de vida dos celtas continuou durante a era Cristã e foi onde menos as civilizações se fundiram.
O nome “celta” começou a ser usado pelos autores Gregos, do século V a.C, referindo-se a alguns povos da Europa. Surgindo os celtas cisalpinos e transalpinos.
É provável que do equivalente ao termo “gálata”, tenha surgido à expressão gaulês e que deu nome a um território determinado: A Gália cisalpina e transalpina.
Celtas e Druidas enquanto etnias eram povos distintos, conquanto vivessem harmoniosamente e terem adquirido, pelo uso, o caráter de termos sinônimos.
Aos historiadores, no entanto, fazem a distinção que é necessária. “DRUIDAS”, como povo, não como sacerdócio – são muito anteriores aos celtas. Instruíram-se primeiro nos restos atlante-europeus e mais tarde nos ário-celtas, no dizer de Madame Blavatsky em seu livro a Doutrina Secreta.
No Livro, Depois da Morte, Léon Denis, ao dedicar um capítulo as Gálias, está atento às sutilezas das fontes históricas e, ao mesmo tempo, nos oferece a bibliografia que fez parte de seus estudos. “Por muito tempo, só conhecemos os gauleses pelos autores latinos e pelos escritores católicos. Mas, essas fontes devem, a justo título ser suspeitas, pois esses autores tinham interesse direto em desacreditá-los e em desfigurar as suas crenças. César, o conquistador romano, escreveu os seus “Comentários”, com evidente interesse de se exaltar aos olhos da posteridade”.
Outros pensadores como: Cirilo, Clemente de Alexandria e Orígenes distinguem com cuidado os DRUIDAS, da multidão dos povos idólatras, e conferem-lhes o título de filósofos.
A história dos CELTAS e dos DRUÍDAS, está intimamente ligada à memória de seus mitos. Essas raízes mais profundas desses povos, já citados, em regiões como: Norte da Escócia e da Irlanda, onde os mitos e lendas bardas corriam de boca em boca e a alma céltica é revivida a cada festa tradicional da região, com seus cânticos, músicas, danças e costumes.
E esses mitos são importantes na medida que levantam os véus das crenças célticas e lembram a atmosfera do “sobrenatural”, em que vivia esse povo, com o misterioso entrosamento entre vivos e mortos, tendo por cenário a abóbada das árvores e o escrínio celeste.
N França, porém, solo da antiga GÁLIA, é que o espírito do CELTISMO está mais impregnado no entender de Léon Denis.
Ele soube captar essas influências e, em suas obras, discorre magistralmente sobre ele. Extraímos do Livro Joana d’Arc, Médium, pequeno trecho que bem retrata esse espírito “A alma céltica tem por santuário a Bretanha; porém, as vibrações de seu pensamento e de sua vida se propagam até muito longe, por toda a região que foi a Gália”.
Diz Léon Denis: “O que é então a alma céltica? É a consciência profunda da Gália. Recalcada pelo gênio latino e oprimida pelos Francos, desconhecida e olvidada pelos próprios filhos. A alma céltica sobrevive através dos séculos”.
I – A ORIGEM DOS DRUÌDAS
O DRUIDISMO desapareceu, mas seu pensamento está presente nas línguas, na filosofia, na toponímia, nas letras e nos costumes principalmente da Europa Ocidental, do extremo norte da Escócia, Irlanda, Grã-Bretanha e França. Hoje, a cultura oficial redime-se quando reconhece que durante muito tempo considerou-se que não apenas os gregos e romanos haviam formado a base dessa civilização, em detrimento dos CELTAS, quando na realidade, o Ocidente, também, é herdeiro destes últimos. Podem, ser, inclusive, considerados os grandes propulsores da evolução da civilização Ocidental.
No plano religioso, apresentavam-se como “sustentáculos” dos cultos e não como sacerdotes. Segundo César “OS DRUÍDAS”, ensinavam à juventude o movimento dos astros, a grandeza do mundo e da Terra, as ciências da natureza, a força e o poderio dos deuses imortais.
Suas cerimônias baseavam-se nas antigas crenças da Religião da Natureza, com seu TEMPLO no bosque sagrado sob a abóbada celeste. Praticavam o culto dos astros, considerando esses mundos habitados por seres superiores.
César dizia que “OS DRUÍDAS” se ocupavam das coisas divinas, realizavam sacrifícios, em público, e em lugares privados, interpretavam coisas religiosas”. Plínio os descrevia como magos e, mais especificamente, como milagreiros e médicos, referindo-se ao uso do herbalismo. Estrabão os definia como Filósofos naturais e morais; Diodoro os considerava filósofos versados em assuntos religiosos.
Certo é que os DRUÍDAS eram sacerdotes com múltiplas capacidades e um saber universal. Diferentemente das religiões grega, romana, germânica. A Religião celta não possuía padres, mas uma classe sacerdotal hierarquizada.
Conta-nos o escritor brasileiro, Eduardo Carvalho Monteiro, no seu excelente Livro,ALLAN KARDEC O DRUÍDA REENCARNADO, que os textos clássicos informam que os DRUÍDAS dividiam-se em três classes distintas, cada qual com suas funções específicas e um treinamento diversificado, sem que isso significasse a submissão de uma classe à outra:DRUÍDA-Bardos, DRUÍDAS-ovados e DRUÍDAS.
Os BARDOS eram considerados os zeladores da tradição, a memória da tribo, os depositários da sacralidade do mundo. Seu treinamento era intenso e demorava muitos anos, supõe-se que 12 anos, e o aspirante passava de principiante a aprendiz de poeta, e a aprendiz satírico. Durante esse período, ele tinha que aprender a base das artes bárdicas: gramática; histórias e o alfabeto. No seu término de seu treinamento tornava-se um doutor em Poesia.
O treinamento da memória para o bardo era de fundamental importância, pois ele tinha que trazer na memória um número fantástico de contos e poemas. Propositadamente, a maior parte das narrativas é ambígua. Convivendo com os gauleses, gregos e latinos, os bardos, foram avaliados como homens dotados de espírito e pensamento elevados, mas que não falavam como eles. Já Diodoro da Sicília informa que eles eram econômicos em suas conversações, se exprimiam por enigmas e muitas de suas respostas vinham cifradas.
A árvore emblemática do grau bárdico é a bétula, pois representa o começo, o pioneirismo. A oeste é o lugar do bardo. Os períodos associados ao grau bárdico são a primavera e a aurora, períodos em que o bardo está revigorado e pronto para iniciar um novo ciclo de aprendizagem e experiência.
Os OVADOS eram detentores da compreensão dos mistérios da morte e do renascimento, por saberem transcender o tempo, prever o futuro e conversar com os mortos. Como xamãs, se é que este termo, propriamente, lhes caiba, eles possuíam as habilidades da profecia e, no campo material, tinham as tarefas jurídicas, de aconselhamento, como ensino e filosóficas dos DRUÍDAS. Mais abrangentemente, os ovados dedicavam-se à sátira, ao encantamento, à predição, à magia falada e escrita, à justiça, medicina, ensino, música e a guerra.
De uma maneira geral, o que se mostra é que, embora cada classe possuísse função definida, isso não impedia que uma mesma função fosse exercida pelas três classes.
Assim como os hindus, os DRUÍDAS, acreditavam na reencarnação e os ovados eram os destinados a se comunicarem com os ancestrais para receber orientação e inspiração. Essa conexão especial com oOutro Lado da Vida, os oficiantes do Rito de Samain, a festa dos mortos, realizada em 31 de outubro. Não se trata, porém, de um culto mórbido à morte, porque o interesse real do ovado é pela Vida e pela regeneração. Ele sabe que para nascer é preciso morrer, seja no sentido figurado ou no real.
O OVADO possuía dons cura e conhecimentos da tradição dos animais, árvores e ervas. Além da capacidade já citada de se comunicar com os espíritos, sua condição de penetrar no não-tempo lhe permitia realizar previsões e profecias.
Os ovados podiam “recuperar” os acontecimentos ou “revisitá-los”, na mesma terra do não-tempohabitada pelos deuses. Em outras palavras, eram intermediários humanos que, em estado de transe, principalmente durante os rituais realizados em festivais, podiam prever o futuro ou exercer a retrocognição.
A árvore que representa o ovado é o teixo, árvore da morte e do renascimento. O norte é o lugar do ovado, pois é onde ele toma conhecimento da “inteligência espiritual e da noite”. Os tempos associados ao ovado são o outono e o inverno, à tarde, o anoitecer e a meia-noite, períodos em que se assimila a experiência do dia ou do ano e se penetra nas grandes profundezas do inconsciente.
DRUÍDAS - Eles ensinavam durante vinte anos em cavernas ou florestas isoladas, muitas coisas em segredo aos nobres da nação. Pompônio Mela.
César menciona que demorava vinte anos para se tornar um DRUÍDA e, se julgar pelos doze anos para passar de bardo a ovado, outros tantos como tal, é natural acreditar-se que o DRUIDA, só alcançasse sua plenitude na madureza. A observação de César pode ter relação com o Meton Cycle, ciclo calendário de dezenove anos utilizado pelos DRUÍDAS.
Se o bardo era poeta ou músico, conservador da tradição, inspirador e recreador; o ovado, doutor, detetive, advinho e vidente; o DRUÍDA era conselheiro dos reis e legislador, mestre e autoridade nos assuntos do culto e cerimônias.
O DRUIDISMO apresentava uma diferença capital em relação ao cristianismo e ao islamismo.
Por ser uma religião solar, natural, da terra e não uma religião revelada, os DRUÍDAS, não atuava como mediadores entre Deus e o homem, mas como sacerdotes, diretores espirituais das cerimônias.
Ao examinarmos os papéis que os DRUÍDAS desempenharam como mestres ou juízes, conselheiros, e cientistas, há de se notar que por trás de cada uma dessas funções, o DRUÍDAera um filósofo, preocupado com a transcendência da alma humana e o significado da vida na Terra. Como bem situou Estrabão, os DRUÍDAS, além da filosofia natural estudavam a filosofia moral. Seus conhecimentos eram bastante amplos, como também, atestou César: “Eles têm muitas explicações no que tange às estrelas e seu movimento, o tamanho do Universo e da Terra, a ordem da Natureza, a força e os poderes dos deuses imortais, e transmitem sua tradição para os jovens”.
Assim como aconteceu em todas as festas pagãs, que tinham justificativas-sábias-astronômicas, a “sabedoria” da Igreja houve por bem incorporar esse festival DRUÍDA e o 31 de outubro transformou-se no Halloween nos países anglo-saxões, 1o, de novembro em Todos os Santos e 2 de novembro emFinados, as duas datas correndo no signo de escorpião, que rege a morte (Finados) e a magia (asbruxas), o terror do além. É a época em que se abrem as portas entre os vivos e os mortos.
A palavra Halloween é uma contração de “All Hallowed’s Eve (Véspera de Todos os Santos). Ignorando as raízes ancestrais DRUÍDICAS, os historiadores da Igreja dão como surgidas essas comemorações nos tempos medievais”.
A árvore que representa o grau DRUÍDICO é o carvalho, àrvore da régia sabedoria e tradição, sempre associada a seus bosques, onde se reúnem e ensinam. O leste é o lugar do DRUÍDA, pois é lá que o sol nasce e de onde vem a iluminação. Os períodos associados ao DRUÍDA são o meio dia e o verão – tempos de maior brilho e de crescimento (Condensado da obra Elementos da Tradição Druida, de Philip Carr-Gomm, págs. 55 a 80, Ed. Ediouro, 1991).
A cerimônia DRUÍDA mais importante era a que colhia o VISCO do CARVALHO, árvore sagrada.
Vejamos, agora, como Denis, relembra a cerimônia a que seu Espírito e o de ALLAN KARDECtantas vezes devem ter presenciado quando das suas encarnações DRUIDAS. Praticava-se o culto debaixo da copa dos bosques, os símbolos eram tomados da natureza. O templo era a natureza, a floresta secular, de colunas inumeráveis, e sob zimbórios de verdura, onde os raios de sol penetravam com suas flechas de ouro, para irem derramar-se sobre a relva em mil tons de sombra e luz. Os murmúrios do vento, o frêmito das folhas, produziam em tudo acentos misteriosos, que impressionavam a alma e a levavam à meditação. A árvore sagrada o CARVALHO, era o emblema do poder divino; oVISCO sempre verde era o da imortalidade. Por altar tinham montões de pedra bruta. “Toda a pedra lavrada é pedra profanada”, diziam esses austeros pensadores.
Em seus santuários jamais se encontrava objeto algum saído da mão do homem. Tinham horror aos ídolos e às formas pueris do culto romano.
Todos os monumentos megalíticos eram originalmente de pedra bruta, particularmente, os altares. No fim do período Neolítico essa tradição se perdeu e passou-se a colocar pedras erguidas e altares talhados. A tradição, no entanto, foi retomada mais tarde pelo mundo hebraico.
Os DRUIDAS tinham vários bosques sagrados, encontrando-se seu maior centro iniciático na FLORESTA DO CARNUTES, no centro da Gália, onde eles se reuniam em segredo ao que parece para eleger seu SACERDOTE SAGRADO - O ARQUIDRUÍDA - (KARDEC FOI UM SACERDOTE de conformidade com vários depoimentos do Espírito ZÉFIRO, Espírito protetor pela médium Caroline Baudin, nas reuniões desde 1855, em Paris, informando tê-lo, conhecido em uma existência anterior quando, no tempo dos DRUIDAS, e que viveram juntos na Gália), e, cortar o VISCO sagrado. O VISCO, provinha de um cogumelo, um agárico, planta parasita que crescia em velhos carvalhos e tinha o poder “sobrenatural” de curar as doenças; daí sua aura de imortalidade. Atualmente, a ciência médica “redescobriu” o potencial curativo desse cogumelo, sob a denominação moderna de Royal Agharicus.Atualmente, está sendo cultivado não no carvalho, mas no solo, em larga escala nos EUA, cujo Departamento de Controle de Medicamentos, já aprovou seu uso e confirmou seus efeitos curativos em moléstias como o câncer. Uma das suas propriedades mais importantes é o reforço do sistema imunológico.
O DRUIDISMO E A DOUTRINA ESPÍRITA – O Espiritismo não é mais de que uma adaptação das crenças de nossos pais à nossa mentalidade moderna, pois coincide exatamente com o DRUIDISMO e constitui um retorno às nossas genuínas tradições célticas, ampliadas pelos progressos da ciência e confirmadas pelas vozes do Espaço (Léon Denis).
DENIZARD também é um nome DRUÍDA. Os nomes de família, geralmente transmitidos há séculos, oferecem poderoso interesse psicológico e social: não os trazem, em sua fisionomia, o reflexo, as marcas das civilizações passadas? Muitos autores consagrados já discorreram sobre o nome de batismo de Allan Kardec, cujo nome correto é DENIZARD HIPOLLYTE LÉON RIVAIL. Diz o escritor brasileiro, Eduardo Carvalho Monteiro, e segundo a sua opinião, que o nome DENIZARD, deriva da velha expressão latina Dionysios Ardenae, desginando deus Dyonísio da Floresta de Ardernas. Dentro dessa imensa mata gaulesa, que Júlio César calculava estender-se a mais de 500 milhas. Os DRUIDAScelebravam neste lugar as evocações festivais do Deus nacional da Gália, denominado “Te-Te-Te”.Altíssimo representado por um carvalho secular. A sombra do carvalho divino, os legionários romanos, após a derrota de Vercingétorix, grande líder Gaulês, em 58 – 52 a.C. ergueram a estátua do deusDionysios, também conhecido pelo nome de Bacchus, deus das selvas, das campinas, das uvas, dos trigais, amante da rusticidade e da liberdade.
O DRUIDISMO se aplicava, sobretudo, a desenvolver a personalidade humana, em vista da evolução que lhe é destinada. Ele cultivava as qualidades ativas, o espírito de iniciativa, a energia, a coragem; tudo o que permite afrontar as provas, a diversidade, a morte com uma inflexível segurança. Este ensino desenvolvia, no mais alto grau, e entre os homens o sentimento do direito da independência e da liberdade. Observemos os exemplos de liberdade dos Enciclopedistas e os ideais da Revolução Francesa. Os gauleses eram iguais e livres, mas eles não tinham uma consciência suficiente dessa fraternidade universal, que assegura a unidade de um grande país e constitui sua salvaguarda na hora de perigo. Por esta falta de unidade, foi que a Gália foi invadida e dominada.
O DRUIDISMO tinha necessidade deste complemento que o Cristianismo de Jesus lhe proporcionou. Não falamos do Cristianismo primitivo, ainda, não alterado pela ação do tempo e que nos primeiros séculos apresentava tanta analogia com as crenças Célticas, porquanto, ele reconhecia a Unidade de Deus, a sucessão das vidas da alma e a pluralidade dos mundos.
O Escritor brasileiro, Pedro Granja, no seu Livro: Afinal, Quem Somos, diz-nos que o progresso dos estudos Célticos na publicação das “Tríades”, e os cânticos bárdicos na (Irlanda e País de Gales) permitem-nos encontrar algumas fontes seguras e uma justa apreciação de tais crenças.
A filosofia dos DRUIDAS, reconhecida em toda a sua amplidão, confirma-se com a Doutrina Secreta do Oriente e com a dos Espiritualistas modernos, pois como estes, também, divulga as existências progressivas da alma na escala dos mundos.
Os gauleses criam, com fé vivaz, na vida progressista da personalidade, e tão era a certeza das vidas futuras, que dividiam o Universo em três círculos: “O de Deus, morada da essência divina; O da felicidademorada dos espíritos puros; e o das viagens morada dos espíritos que estão se depurando”.
As “Tríades” são o mais belo e maravilhoso monumento que nos resta da antiga sabedoria dos Bardos e dos Druidas; abrem perspectivas ao investigador sem limites. Proclamam a evolução das almas partidas de ANKOUN, o abismo, subindo vagamente a longa espiral das existências a ABRED, para chegarem, depois de muitas mortes e renascimentos a GWENVED, o círculo da felicidade.
No ANKOUN, sobre o jugo da matéria, é o período animal. Penetra depois no ABRED, círculo das migrações que povoam os mundos de expiação e de provas: a Terra é um desses mundos, e a alma se incorpora bastante em sua superfície. A custa de uma luta incessante liberta-se das influências corporais do mundo e deixa o circulo das encarnações para atingirGWENVED, círculo dos mundos venturosos ou da felicidade, abrindo-se os horizontes encantadores da espiritualidade.
Ainda mais acima desses círculos se desenrolam as profundezas do KEUGANT. Círculo do Infinito que encerra todo os outros e que só pertence a Deus.
Os DRUIDAS comunicavam-se com o mundo invisível, mil testemunhas o atestam. E no recinto de pedra evocavam os mortos. As DRUIDESAS e os Bardos (Irlandeses e Escoceses), proferiam oráculos, tinham visões de seus mortos queridos. Conversavam, sempre, com os seres espirituais.
A Lei de caridade e de amor, a melhor que o Cristianismo lhe fez conhecer, veio completar o ensino dos DRUÍDAS e foi uma síntese filosófica e moral plena de grandeza. Nesses povos viveu ALLAN KARDEC, que foi um Sacerdote DRUÍDA.
O DRUIDISMO é precursor do ESPIRITISMO, conta-nos, novamente o Escritor Eduardo C. Monteiro, que “KARDEC comparou as escalas DRUÍDICA E ESPÍRITA da ascensão espiritual. Para abordar as questões principais, tomamos por referência o Resumo do Credo Celta, formulado por Robert Ambelain em sua obra As tradições Celtas, tendo os conceitos espíritas sido extraídos de O Livro dos Espíritos e outras obras básicas do Espiritismo.” (Oiw e Deus) a seguir:
1.“Creio na existência de um só Ser, Todo-Poderoso, Infinitamente Sábio, Infinitamente Bom, Fonte e Conservador de todos os seres emanados, e que eu designo pelas três letras santas: OIW...(Tríades: 1-5)”.
2. “Acredito que OIW, por visar por causa de sua Onisciência, todos os futuros possíveis, opera entre eles, por meio de sua Onisapiência, uma discriminação eterna como Ele, constituindo assim o Bem e o Mal. O que ele admite, almeja, conserva, constitui então KEUGANT. O Mundo Divino. O que ele refuta, rejeita, reprova, constitui ANKOUN. O abismo. (Tríades 6-7-7-14-83-72)”.
3. “Acredito que OIW, por ser infinitamente Bom, almeja e faz com que tudo o que constitui ANKOUN evolua e melhore, alcançando fatalmente um KEUGANT. Mas, porque nele a possibilidade das coisas, boas ou más, é infinita, eterna é, portanto, esta Obra da Redenção como são os próprios Ankoun e Keugant...( Tríade 7-14)”.
A definição que o Espiritismo dá ao Criador não poderia ser mais próxima da DRUÍDICA. Iniciando sua inquirição aos Espíritos sobre a natureza Divina, já na primeira pergunta de O Livro dos Espíritos, Kardec descaracteriza prontamente a antropomorfeidade da divindade, erro comum a tantas religiões, indagando O que é Deus e não Quem é Deus? E a seqüência entre a primeira e a décima-sexta questão dessa obra é de uma lógica irretorquível, que faz brilhar a compreensão na mente do homem racional. Seu resumo: Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas, soberanamente justo e bom. Deus é infinito em todas as suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é infinito é tornar o atributo pela própria coisa, e definir uma coisa que não é conhecida, por uma coisa que também não o é.
“Deus é Eterno, Imutável, Imaterial, Único, Todo-Poderoso, onisciente e onipresente. Criou o universo que compreende todos os seres animados e inanimados”. E, assim, em diante...
Para finalizar este pequeno trabalho de pesquisa, transcrevemos uma mensagem deALLAN KARDEC, escrita no Livro O GÊNIO CÉLTICO E O MUNDO INVISÍVEL, àspáginas 281 a 284 do Escritor Léon Denis em uma de suas reuniões mediúnicas realizadas na França.
Eis aqui, inicialmente, a apresentação do Espírito ALLAN KARDEC pelo guia Espiritual diretor de nosso Grupo.
“Eu vos declaro a visita do Espírito ALLAN KARDEC. Constatei a ambiência pura e a bela cor fluídica em que envolvem este espírito, o brilho de sua fé na força divina superior. E o que permitiu, no decorrer de suas existências, prosseguir uma evolução que lhe dá, em cada vida, os conhecimentos, as intuições mais precisas sobre as formas e as leis da vida universal”.
Ele se ligou particularmente à França, e a chama Céltica também, chamada a primeira fé natural, sempre brilhou sobre ele. ALLAN KARDEC se dedicou a reanimar essa fé na consciência e na subconsciência dos Franceses, a fim de ajudá-los a elevar seu espírito e a se aproximarem do raio celta.
O médium, ignorando completamente a questão céltica, nos oferece uma garantia perfeita contra a auto-sugestão.
O Celtismo representa a fé ardente emanada das correntes superiores e transmitida na vossa região por uma radiação que auxiliou, de modo poderoso, o desenvolvimento da consciência Francesa. É um dos vínculos mais vivazes ao culto da sobrevivência e ao da Pátria. Assim, a pequena chama céltica que ilumina vossas consciências de Franceses, se eleva, em vossas preces, brotando à medida que a sinceridade se sublima.
Vós deveis, na vossa obra, fazer um apelo às reminiscências célticas para ativar essa fé ardente na Divindade que provoca, sobre nosso mundo, o envio de correntes geradoras e benfeitoras. Esta alta aspiração, os corações puros a possuem. Como outrora os Celtas, as almas que têm sede de ideal procuram nas fontes da natureza essa luz benfeitora que simboliza a grandeza divina. ALLAN KARDEC vos dirá como e por que esse raio céltico estava ligado ao solo armoricano (De Armorique, parte antiga da Gália, hoje, Bretagne).
Concluo afirmando que o raio céltico é o guia que vos dirige para o supremo foco de luz. É por esta luz que chegareis a compreender a marcha da vida universal. Em vossas vidas, à medida que subirdes para Deus, vós vos saciareis nessas fontes poderosas, aprendereis a conhecer as forças insuspeitas do éter e as vibrações criadoras que demonstram a existência do foco divino.
Mensagem Mediúnica recebida em 15/01/1926. DO ESPÍRITO ALLAN KARDEC – NO GRUPO ESPÍRITA DE LÉON DENIS-FRANÇA.
1. Fonte única das três grandes Revelações: Búdica, Cristã e a Céltica.
Sou feliz por vir perto de vós, pois experimento uma satisfação moral, um prazer real, ao me sentir bem adaptado aos seres que desenvolvem radiações sensivelmente idênticas às do meu perispírito. Isto nos mostra que é preciso a adaptação fluídica para se poder compreender, trocar pensamentos e observações, conforme os lugares nos quais se quer descer. Cada indivíduo projeta uma radiação em relação com o número de suas existências; e a riqueza molecular de seus fluidos, que compõem seu “eu” psíquico, está igualmente em razão direta dos trabalhos, das provas sofridas e do esforço continuado durante suas existências, seja no mundo, seja no espaço.
Acrescento que me é particularmente agradável descer nesta região da França, que amei e habitei materialmente, desde a Armorique até Maurienne.
Cada torrão formou para mim imagens que jamais se apagarão. Como celta, me impregnei dessa mística que tinha trazido de modo palpitante do espaço. Depois, em minha penúltima existência, na Savoie, adquiri a resistência moral que me foi necessária para ensinar a doutrina que vós conheceis.
Mas, inicialmente, falemos da existência pela qual me fixei na Bretagne, e que foi como a vida inicial, projetando, no meu ser, a centelha da vida universal. Esta centelha brilhou mais ou menos durante minhas diferentes vidas, conforme eu procurava adquirir uma ou outra qualidade, aproximando-se, mais ou menos, da matéria ou do espírito.
Há pessoas que não podem admitir as vidas sucessivas. Para elas a faísca fica velada, porque a vida material as absorve inteiramente. Há existências de fé, há existências de trabalho, porque é uma lei imutável, um dos princípios fundamentais, que o ser se desenvolva através das alternativas para recolher os germes benfeitores que devem ajudá-lo a progredir nos espaços.
Deus projetou a parcela de luz que é a alma, e esta radiação do pensamento divino deve chegar, por transformações e crescimentos sucessivos, a formar um foco radiante que contribuirá para a manutenção e o equilíbrio da atmosfera dos mundos. É este um preceito de ordem geral que indica a necessidade da pluralidade das vidas.
As primeiras sociedades humanas que povoaram a vossa Terra trouxeram o esquema das civilizações futuras; em certos lugares a iniciação espiritual foi bastante avançada; os egípcios, os celtas, os gregos, por exemplo, levaram com eles os focos radiantes que paralisaram forças materiais. Os elementos do progresso já foram, por eles, estabelecidos em vosso globo. O vai-e-vem dos seres que viverão, ora na superfície, ora no espaço, poderá, desde, então, prosseguir, com regularidade. Os recém-chegados, conforme o seu grau de evolução, procederão de grupos pertencentes a mundos inferiores, existentes ou desaparecidos. Estas considerações de ordem geral eram necessárias antes de falar mais especialmente da França, de sua influência fluídica e de sua irradiação no mundo.
A idéia céltica é a sua própria essência; ela emana do foco divino e representa o espírito de pureza na raça; ela deve iluminar, através dos séculos, a alma nacional. É o impulso para as esferas superiores, o conhecimento inicial do foco divino, a sobrevivência do pensamento, a correlação das almas e dos mundos, a orientação em direção a um alvo que deve tornar-se claro e preciso de acordo com a nossa evolução.
O Celtismo é o raio que assinala o caminho para os estudos psíquicos futuros. É sobre ele que está enxertado, no vosso país, o pensamento do Cristianismo, como o Cristianismo havia se impregnado dessa outraradiação: o misticismo oriental.
Existem em vosso mundo certos pontos fluidicamente privilegiados, que são como espelhos, condensadores e refletores de fluidos, destinados a fazer vibrar as mentes e os corações dos povos do planeta. Sobre esses pontos, três focos se iluminaram: o foco oriental, nas Índias, o foco cristão, na Palestina, e o foco céltico, no Ocidente e no Norte.
Ao estudar a gênese dos fenômenos que concretizaram as doutrinas, vê-se que a causa superior é sempre a mesma, e que vosso planeta recebe essas correntes, ou feixes de ondas superiores, que são as artérias verdadeiras da vida universal.
Para a vossa evolução, agora se produz um novo foco radiante de pensamento, que mostrará à humanidade toda a beleza, a grandeza e a potência divina.
ALLAN KARDEC.
Mensagem publicada no Livro, O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, de Léon Denis, traduzido do original Francês, às paginas 261/264, pelo senhor Cícero Pimentel, 2001, 2a. Edição. CELD, Rio de Janeiro-Brasil.
BIBLIOGRAFIA:
Denis, Léon, O Gênio Céltico e o Mundo Invisível, 2001, 2a.Edição, CELD, Rio de Janeiro-Brasil.
Granja, Pedro, Afinal, Quem Somos, 1972, 7a. Edição, CALVÁRIO, São Paulo – Brasil.
Monteiro, Eduardo Carvalho, Allan Kardec o Druida Reencarnado, 2003, 4a. Ediçâo, EME-Editora, São Paulo-Brasil.
Pesquisas realizadas em Homenagem ao Codificador ALLAN KARDEC, no ano do bicentenário de seu renascimento. SALVE KARDEC.
João Batista Cabral
E-mail: jomcabral@brabec.com.br
Fone: 021.31.79.217.4228
Aracaju-Sergipe-Brasil
Em 19.03.2004
OOO
SEMINÁRIO: KARDEC – ONTEM, HOJE E AMANHÃ
KARDEC - O SACERDOTE AMENÓPHIS
TEMA. 02.
Queridos irmãos e irmãs em Jesus.
No tema anterior, 01, trouxemos à consideração pública a CRÔNICA - KARDEC E NAPOLEÃO, uma extraordinária contribuição histórica do Espírito HUMBERTO DE CAMPOS (Irmão X), eminente escritor brasileiro, atualmente, desencarnado, que escreveu pela mediunidade missionária de FRANCISCO CÃNDIDO XAVIER, no Livro: Cartas e Crônicas, capítulo 28, a crônica naquela mencionada obra.
Neste tema, 02, enfocamos a vida do SACERDOTE AMENÓPHIS, que vivera em THEBAS, no Templo de AMOM, na dinastia dos RAMSÉS, no mesmo período em que vivera o extraordinário Médium, Moisés, em torno de, aproximadamente, 1386 anos antes de Cristo, considerado este como responsável pelo recebimento dos 10 mandamentos da Lei. RAMSÉS IIfoi o sucessor do seu pai, o Faraó SETI I, da 19ª. Dinastia. e que aquele foi conhecido pelo nome de O FARAÓ DE MERNÉPHTAH, reinando no antigo Egito.
O Espírito Rochester no Livro O FARAÓ DE MERNÉPHTAH, através da Médium WERA KRIJANOWSKAIA, deixou entre nós muitas obras e, neste romance histórico de rara beleza, que deve ser mencionado, com outros extraordinários livros de sua autoria, neste momento, quando todos nós já comemoramos os 200 anos de renascimento de - Hippolyte Léon Denizard Rivail, - conhecido, mundialmente, como ALLAN KARDEC.
Realizando uma síntese do Romance O FARAÓ DE MERNÉPHTAH, oferecemos ao querido INTERNAUTA, alguns diálogos de pura beleza, e, que, por certo, nos mostram como a Lei da Reencarnação é um abençoado mecanismo para a nossa perfeição. Vamos, a seguir, penetrar nos diálogos entre AMENÓPHIS e PINEHAS, seu discípulo, que mais nos interessam nestas pesquisas históricas.
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“No ano de 1885, O ESPÍRITO ROCHESTER, criou o seu FARAÓ DE MERNÉPHTAH, e, com ele nos ofereceu os mais empolgantes diálogos”.
_ Aí está Pinehas, de quem te falei – disse Enoch, apontando-me. E, AMENÓPHIS, aproximou-se lépido e, erguendo-me a cabeça, examinou-me, sorrindo:
_ És o filho de Kermosa e desejas instruir-te? É muitíssimo louvável, meu filho; mas, quererás também te separar de tua mãe, acompahar-me a THEBAS e viver no TEMPLO sob minha estrita e severa vigilância?
_ Se me prometes ensinar tudo o que sabem os sacerdotes, seguir-te-ei por toda à parte e te obedecei como escravo, respondi de faces esfogueadas.
Finalmente, AMENÓPHIS levanta-se, e passamos ao terraço que dava para o jardim. A noite estava magnífica. O ar embalsamado pelas acácias, rosas e jardins. O Sacerdote debruçou-se na balaustrada e ergueu a cabeça fixando os céus pontilhados de estrelas, que a escuridão da abóbada parecia destacar em rendilha prateada. Pinehas, disse, voltando-se para mim, que pensa desses pontos brilhantes? Que são eles e para que os vemos ali? Calei-me, porque nada sabia, receando repetir a explicação que me havia dado minha mãe e na qual não acreditava.
_ Esses pontos brilhantes, meu filho – disse AMENÓPHIS – são os astros, árbitros de nosso destino. Na ocasião aprazada segui para THEBAS e fui colocado pelo meu protetor no TEMPLO DE AMOM, entre rapazes filhos de sacerdotes e guerreiros, que ali estudavam. AMENÓPHIS interessava-se pelo meu aproveitamento e auxiliava o desenvolvimento das minhas faculdades incomuns. Posso dizê-lo sem vaidade, porque essa facilidade era fruto de um passado laborioso. Estudava com ardor e tenacidade incansáveis. As ciências secretas, sobretudo a astrologia e a magia, me seduziam; e para estudá-las deixava tudo. Mas tarde dediquei-me também, à medicina; meu espírito insaciável de conhecimentos queria tudo conhecer e quando algum velho papiro proveniente da Índia decifrava a virtude misteriosa de uma planta apoderando-me assim de uma arma poderosa, pensava com orgulho que apenas me encontrava no início das pesquisas.
_ AMENÓPHIS - disse - recorda-te da nossa primeira entrevista, Pinehas, na pequenina casa de Enoch em TÂNIS. Disseste, então: “Se boa influência da matéria imponderável descer sobre Ti, serás feliz”. Depois disso, muito tenho estudado da ciência dos astros e, não obstante, muita coisa permanece ainda incompreensível para mim. Por exemplo: Li nas estrelas que a vida me reserva muitas desilusões e, entretanto, sou ativo, tenho em mãos a ciência das armas poderosas e a força de vontade para realizar qualquer propósito. AMENÓPHIS,respondeu: Filho, jamais foi dado ao homem desvendar todos os mistérios com que a Divindade o cerca; nós apenas levantamos apenas uma ponta do véu; mas, como te recordas das minhas palavras, aqui aditarei algumas reflexões: Sabes, Pinehas, o que se diz desses pontos brilhantes?(e apontou para o céu). Diz-se que são mundos quais o nosso, habitados por seres íntimos, iguais a nós, animados pelos mesmos sentimentos e cuja vida e destino se refletem sobre os nossos. Sabes, também, que o Universo está cheio de um elemento imponderável, que denominamos de matéria primitiva, mas nada na natureza se oferece de graça; por toda parte há trocas. Por exemplo: entre os homens, os animais e as plantas há perpétua permuta de emanações e é isso que produz a rotação; o atrito dos corpos, desse atrito o fogo, isto é, o calor que tudo anima; é a mesma lei do mínimo ao máximo que rege o Universo. O mundo tem por contrapeso outro mundo; um sistema planetário se atrita com outro sistema planetário; o destino de um homem vale o de outro homem; e o produto do bem ou do mal recai sobre nós, da parte do contrapeso que o movimenta compreendo: onde está o fogo está à vida, isto é, - a alma, a inteligência-que se move, o meu destino depende do de alguém que, invisível e longe de mim, constitui o contrapeso da minha existência; o fluido que exala em troca do meu nos junge um ao outro. Da mesma forma, o destino dos povos depende de outros povos que vivem nesses astros.
Mas, isso é injusto – continuou Pinehas, animando-se pouco a pouco tão injusto quanto a Lei estúpida e indigna que condena a alma, após a morte, a expiar por seus crimes e erros, no corpo de um animal? Respondeu AMENÓPHIS: Por que não admitir, jovem impetuoso que ora te encontras num meio inteligente e que és homem, porque pertence aos círculos dos homens mais esclarecidos naquilo que o desenvolvimento intelectual permitiu conhecer até hoje! Mas, observa os selvagens prisioneiros trazidos da última guerra pelo nosso FARAÓ MERNÉPHTAH. Comparando a ti, não ti inspiraram o mesmo desprezo que o homem sente pelo animal? Como a fera esse prisioneiro está acorrentado, mudo, privado de vontade, e mesmo de vida, se for a vontade do seu senhor; sua linguagem, gutural, evoca os poucos brutos, entretanto, esse ser no seu meio era um homem livre, estimado, ao passo que entre nós é um animal. Vê agora este céu cheio de extraordinários mistérios, de vidas e de mundos desconhecidos. Quem poderia afirmar que nesses pontos brilhantes não resida a divindade ou seres próximos a ela pela perfeição, e que, se fosses lá enviado, para desempenhar junto deles a tarefa que cabe aos animais mais inteligentes, não seria lá tão atrasado com a língua perra (cão e cachorros), a palavra gutural, o corpo tão grosseiro e feio como os dos animais em relação ao nosso? Não procurarias também ler nos olhos dessas inteligências superiores, adivinhar os seus pensamentos para suprir os sentidos que ti faltassem? Os homens tomam tudo ao pé da letra e acreditam, verdadeiramente, que voltarão a viver e expiar suas culpas num corpo de animal; de resto essa convicção é salutar para o orgulho humano que se sentem felizes e confiantes em serem homens e se apavoram com a perspectiva de voltar a um meio onde as suas paixões hajam de ser consentidas e a língua travada para não transmitir combinações astuciosas.
_ Compreendo - interrompi - se nos tornarmos indignos de ser homens, de voltarmos animalizados; mas, na realidade é somente em razão da diferença do meio intelectual em que nos encontramos. Onde aprendeste tudo isso, AMENÓPHIS? “A resposta a essa pergunta meu filho, Pinehas, será a sua iniciação nos mistérios de Isis (O conhecimento do Universo e da Vida).”
UM DEPOIMENTO SOBRE – MOISÉS – PELO ESPÍRITO J. W. ROCHESTER, NO MENCIONADO LIVRO –O FARAÓ DE MERNÉPHTAH.
A missão revelada era conquistar a amizade de MERNÉPHTAH, e dominar, assim, esse homem violento, mas generoso.
Por intermédio do Faraó, deveria aliviar a sorte dos hebreus (que, aliás, não era tão desgraçada como ele pintava), prepará-los para a liberdade e, chegado o momento favorável, obter de MERNÉPHTAH a libertação. O ensejo de tornar-se árbitro da situação não lhe teria faltado, no momento justo.
MOISÉS, porém, queria atemorizar não só o Egito, mas também os Israelitas, que talvez recusassem obedecer-lhe e deixar o conhecido pelo desconhecido, e que haveriam de o acompanhar principalmente pelo temor de irritar o Deus sanguinário de quem ele era enviado.
A prova desta verdade decorre da própria Bíblia. Vede no Êxodo, segundo Livro de Moisés Cap. 4, versículo 21 e Cap. 7 versículos 3 e 4), como o Eterno, querendo livrar seu povo, declarou que endurecia o coração do Faraó, para dar ao seu enviado ocasião de castigar o Egito e, dessa forma, convencer os filhos de Israel da realidade da sua missão.
Abandonando o Egito, Moisés logo compreendeu que os maiores obstáculos estavam por vencer; a massa popular que o seguia, preguiçosa e turbulenta, sempre pronta a revoltar-se, reclamava o bem estar perdido; para dominar os sediciosos, serviu-se novamente do nome de Jeová e, reduzindo à sua estatura o Criador, infinitamente bom e Senhor do Universo, atribuiu-lhe sua própria cólera e, em seu nome, puniu e massacrou os rebeldes. Moisés não possuía o dom de disciplinar as massas pela magia da palavra, dominava-as pelo pavor.
Ao regressarem seus emissários enviados à rica região que ele elegera para estabelecer seu reino, contaram que povos valentes e aguerridos que ali habitavam. Foi tal o pânico, que ele houve de mandar assassiná-los pela propaganda ruinosa que faziam, convencido de que, com essas hordas indisciplinadas e covardes nada conquistaria; preciso era desaparecesse a velha geração de Israel, antes de tentar qualquer coisa.
Ficou, pois no deserto, levando vida inútil, desabituando o povo da agricultura, que faz o homem sedentário, das artes e dos trabalhos aos quais estava acostumado.
Homem genial, mas ambicioso e violento, quebrava obstáculos, em vez de contorná-los habilmente, para atingir o fim. Discípulo dos sacerdotes mais sábios do Egito, no país mais civilizado do mundo antigo, Moisés não sonhava, então, absolutamente, libertar os hebreus; gozava tranqüilamente a posição e os privilégios de nobre egípcio, que lhe eram assegurados pela estima da real protetora, mulher fraca e amorosa, que ele dominava completamente. Cego pela ambição, concebeu, desde logo, o audacioso plano de tornar-se Faraó.
Não vingou, porém, o projeto. Cercado de inimigos e invejosos seria, talvez eliminado, mas Thermútis lhe angariou um comando no exército e ele partiu a guerrear no estrangeiro. Faltando-lhe às qualidades de um guerreiro, foram vencidos, e os egípcios excitados por seus inimigos, atribuíam-lhe as derrotas à sua má vontade.
Ativo e arrogante, regressou pensando o projeto de se tornar rei dos Hebreus, conduzindo-os para fora do Egito.
Mas Thermútis, sua mãe, faleceu. Uma vez sem defensor, os inimigos esperaram a primeira ocasião para o exilar. E assim partiu de coração raivoso, jurando vingança. No deserto, para onde se retirou, amadureceu os planos, visitou a Índia, estudou, e somente quando julgou assegurado o sucesso, voltou ao Egito.
Reuniu o povo de Israel, e com ele saiu. Os desencantos que experimentou amarguraram-lhe o coração. Querendo, porém, tudo dominar sempre, proclamou-se chefe da religião, nomeando o irmão Aarão sumo-sacerdote, instrumento dócil nas suas mãos e, para disciplinar o povo, decretou leis. Aqui faço inteira justiça à sabedoria e profundeza do seu espírito, que soube reunir num resumo exato a essência da sabedoria da Índia e do Egito, e que, pelos mandamentos, estabeleceu as bases das leis fundamentais da moralidade, que se tornaram herança de todos os povos cristãos.
Nisso, o grande missionário foi digno do seu mandato divino; mas, onde o homem político sobrepõe-se ao profeta, surge a sombra. Ele sabia que a união faz a força; deu, pois, às hordas vacilantes que conduzia, um código que as galvanizou num povo indestrutível. Entretanto, essas leis emanadas de Jeová são cruéis; consagram a pena de maior vingança, até à quarta geração e o ódio a tudo que não seja hebreu; elas fizeram do povo judeu, inimigo de tudo que não seja dele, buscando o trabalho fácil a expensas de outrem, recordando que os roubos ordenados pelo eterno, por ocasião da saída do Egito, o haviam enriquecido sem esforço.
Tudo quanto acabo de referir bem o sei, levantará uma tempestade contra mim, espírito audacioso, que ousou erguer a ponta do lendário véu que encobre o grande legislador hebreu, para revelar sob Moisés profeta, o grande sábio egípcio, o ambicioso e candidato a um trono.
Caros leitores, amigos, não vos esqueçais, porém, de que o escritor, destas linhas é MERNÉPHTAH, o infeliz Faraó que lutou contra esse homem férreo, com desespero do soberano que assiste à destruição da prosperidade de seu povo, mediante inauditas calamidades e comoções políticas sem precedentes na história.
Submetido pelo terror, quase louco pela impossibilidade, em que me encontrava, de compreender o modo pelo qual Moisés agia na missão divina em que eu não acreditava, cedi; mas, após a morte do Faraó, meu espírito sondou avidamente a vida e as ações do antagonista que me vencera.
Diante do olhar desabusado do meu espírito, o grande profeta empalidece não restando senão alguns raios divinos; dele apenas fica o grande sábio, o hábil e ambicioso político. É assim que ele me ressurge na memória, ao vos oferecer estas páginas de um longínquo passado.
ROCHESTER
DEPOIMNTO DO ESPÍRITO CÁIUS DO LIVRO: - CORNÉLIUS OCENTURIÃO QUE VIU JESUS! - DO ESPÍRITO J.W. ROCHESTER - PELA MÉDIUM - MARIAGERTRUDES COELHO MALUF. Mensagem psicografada em outubro de 1995. Ei-la a seguir:
Milênios rolaram...
Várias vezes retornei ao corpo denso de carne, muitas vezes permaneci como espírito, assistindo todos que de mim precisaram.
Cada etapa, uma oportunidade... A cada século, o desenrolar das mesmas cenas de intrigas e paixões, difíceis de superar.
Do paraíso de Capela, uma saudade indizível me constrangia, mas o planeta denso, de fluidos avermelhados, sulcados de fagulhas elétricas exercia sobre mim, forte e poderosa atração.
Por mais que tentasse me desprender dele, seu magnetismo me atraia e me envolvia no rodilhão dos pensamentos a me alcançarem, oriundos de amigos e inimigos.
“A verdade... Queremos a verdade!”
Gritavam alguns.
Sim!
Compreendi que enquanto uma das almas confiadas ao meu numeroso grupo permancesse distante da Verdade, jamais conseguiria desvencilhar-me da condensação que me isola.
Mas, graças ao esforço de trabalho regenerador, Deus enviou-me tu, mestre, para auxiliar-me na restauração de minhas próprias energias.
Tu, pai João, como centurião foste convidado pelo “Mestre dos Mestres”, a fazer parte do séqüito de seus diletos espíritos que desceram à Judéia longínqua por ocasião de sua Passagem Sublime. Inúmeras vezes me refrigeraram a fronte abrasada.
Com teu trabalho fraternal, num lugar ermo, atraíste-me novamente, para a luminosidade do teu afeto.
Falaste-me de Jesus Redentor!
Acordaste meu espírito vacilante, conhecendo minha grande responsabilidade de encaminhar as almas, a nós confiadas, à luz do divino Mestre!
Quantas vezes acompanhastes meus passos vacilantes, por milênios e milênios, envolvendo-me com teu amor e dulcificando meus momentos difíceis!
Foste, há pouco, o Padre AMENÓPHIS, quando eu envergava a figura falível do mísero Faraó de MERNÉPHTAH, ensinaste-me as primeiras noções que regem nossos destinos.
Mostraste-me que estes pontos brilhantes, que fulguram na imensidão, são mundos quais os nossos... Ensinaste-me, outrora, como Padre AMENÓPHIS, a ligação que existe entre todos os seres, e que da permuta de emanações em forma de sentimentos, se produz à rotação e desta, o atrito dos corpos e desse crepitar, o fogo que produz o calor que a tudo anima...
Força incoercível que nos permite desprender do fardo pesado da matéria densa e nos emancipa das leis de tempo e espaço, e nos faculta o poder sobre criaturas e coisas.
Fizeste-me compreender esta lei que rege o Universo e a responsabilidade de nossas ações.
Aprendi, contigo, meu caro mestre, que um mundo se contrapõe o outro mundo, um sistema planetário a outro, o destino de um vale o de outro homem e o produto do bem ou do mal recai sobre os seres, com a mesma intensidade de suas ações.
Instruístes-me sobre a insignificância de nossas inteligências e do nosso limitado saber, por isso, ainda temos a necessidade de nos humilhar, de elevarmos os braços ao céu e procurarmos um guia, um mestre para que não fiquemos à mercê de nossas paixões inferiores e efêmeras.
Depois, contigo, aprendi a compreender o Deus de Amor que rege nossos destinos e mostrastes-me o caminho para Ele, através do Senhor de nossas almas: O Divino Crucificado a quem, corajosamente, tu não hesitaste como pobre centurião, em oferecer a própria vida, para a dele salvar!
Havias compreendido que Nele estava a Salvação de toda a humanidade! E, como o último de seus discípulos, deixaste tudo para segui-lo!
Tu mesmo, valoroso centurião que não há muito, foste Allan Kardec, tu que na última encarnação te devotaste à fundação de uma doutrina que esclarece e consola a humanidade, quantos dissabores não amargaste e perseguições cruéis sofrestes?
Tenho procurado seguir-Te os passos... Tu que segues o redentor da Terra e que vens numa trajetória esplêndida doante-te a teu serviço santificador, mas, quão difícil e incompreensível é a escalada desta montanha de luz?!
Devotados à tua causa, prometi auxiliar-te na propagação da tua Doutrina.
Por diversas vezes falhei, porém, sempre disposto a recomeçar, aqui, me encontro, meu Mestre!
ROCHESTER, Primavera, outubro de 1995. Médium - Maria Gertrudes Coelho Maluf – no Livro: Cornélius o Centurião que viu Jesus!
BIBLIOGRAFIA:
1.KRIJANOWSKAIA, Wera, O Faraó de Mernéphtah, 1979, 5a. Edição Lake Editora. São Paulo - Brasil.
2.MALUF, Maria Gertrudes Coelho, Cornélius – O Centurião que Viu Jesus!, 1998. 6a.Edição. Editoria Lírio Espírita. Ituiutaba. MG. Brasil.
ADE-SERGIPE
João Batista Cabral-
Aracaju-Sergipe-Brasil.
Fone: 021.31.79.217.4228
Em 06.03.2004
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