NOSSA HISTÓRIA

NOSSA HISTÓRIA

Grupo Espírita Mensageiros da Luz

CNPJ 13.117.936/0001-49

Fundada em 18 de junho de 1985 . Nossas atividades se iniciaram na sede do Clube Cultural dos Violeiros de Gravataí onde fomos recebidos com muito carinho e respeito. Ali desenvolvemos os trabalhos de estudo doutrinário e formação de grupos de trabalhos. Procedente do Grupo Espirita Nosso lar em Gravataí, onde participei por 4 anos como voluntário e palestrante, eu, Carlos Eduardo Muller, resolvi fundar nossa casa espírita no Parque dos Anjos . Foi uma tarefa executada com muita alegria e acompanhada de pessoas interessadas em desenvolver um grupo de estudos para que posteriormente a casa prestasse atendimento ao público. Nosso grupo contou inicialmente com a irmã Bernadete Antunes, irmã Kátia Pisoni, irmã Maria Guiomar, irmã Ieda R. Rosa, irmã Elisabete, irmão Miguel Cardoso, irmão Everton da Silva Cardoso, irmã Eni, e dirigindo as atividades eu, Carlos Eduardo Muller. Foram 13 anos de muito aprendizado neste local, e nenhuma dificuldade nos impediu de impulsionar cada vez mais a Doutrina Espírita, pois somente através de muito esforço conseguiríamos atingir nosso objetivo: Ter uma casa Espírita com irmãos preparados espiritualmente e conhecedores da doutrina ditada pelos espíritos a Allan Kardec. Só o fato de manter um grupo em plena atividade ja era uma vitória. Todos sabíamos das responsabilidades em conduzir um trabalho 100% filantrópico. Como em todas as casas espíritas, tambem a nossa sofria e sofre com a rotatividade de colaboradores, fato compreendido por todos nós espíritas. Foram muitos os colaborabores que passaram e contribuiram de alguma forma para o crescimento do grupo. Por opção, alguns foram em busca de outros grupos e outros não conseguiram acompanhar as atividades pelo tamanho da responsabilidade que nos é dada.

Neste período criamos o programa " UM DIA SÓ PRA MIM " normalmente promovido a cada ano. São encontros promovidos com intuito de reunir pessoas da comunidade e outros grupos espíritas durante um dia inteiro com palestras variadas e trocas de informações e sugestões pelos participantes. Neste dia todos se manifestam de alguma forma no sentido de fortalecer os laços que nos unem. O primeiro encontro foi realizado na casa da irmã Eni onde tivemos a participação de aproximadamente 60 pessoas da comunidade e outros grupos. A partir deste, passamos a executar o programa anualmente. Dentre os palestrantes que nos auxiliaram nestes encontros tivemos Nazareno Feitosa procedente de Brasília DF, que aproveitando nosso evento tambem promoveu palestras em casas espíritas de Porto Alegre . Tambem contamos com a participação do dr. José Carlos Pereira Jotz que nos brindou com esposições tendo como tema medicina e saúde .

Em 1998 surgiu a oportunidade de mudança de endereço. Foi só a partir deste ano que conseguimos então organizar melhor as atividades do grupo. Foi uma experiência valiosa. Promovemos a partir de então campanhas de arrecadação de roupas e alimentos para irmãos em dificuldades e quando possível fazíamos o Sopão Comunitário para famílias mais nescessitadas.

Mas foi somente em 31 de julho de 2007 que o Grupo Espírita Mensageiros da Luz foi definitivamente registrado , tendo então uma diretoria formada e um estatuto social . Nesta data em assembléia realizada com a participação de 30 pessoas foi dado posse após votação unânime a diretoria da Sociedade Espírita Mensageiros da Luz, tendo como Presidente a irmã Maira Kubaski de Arruda e como vice Carlos Eduardo Muller. Participaram desta Assembléia , votaram e foram considerados oficialmente Sócios Fundadores as seguintes pessoas: Alexandre Fabichak Junior, Iliani Fátima Weber Guerreiro, Maira Kubaski de Arruda, Alex Sander Albani da Silva, Alexsandra Siqueira da Rosa Silva, Xenia Espíndola de Freitas, Terezinha Richter, Valéria Correia Maciel, Richeri Souza, Carla Cristina de Souza, Miriam de Moura, Maria Guiomar Narciso, Neusa Marília Duarte, Elisabete Martins Fernandes, Leandro Siqueira, Paulo dos Santos, Carlos Eduardo Muller, Camila Guerreiro Bazotti , Sislaine Guerreiro de Jesus, Luiz Leandro Nascimento Demicol, Vera Lucia de Oliveira Nunes, Ieda Rocha da Rosa, Marlon Esteves Bartolomeu, Ricardo Antonio Vicente, Miguel Barbosa Cardoso, Everton da Silva Cardoso, Maria Celenita Duarte, Vera Regina da Silva, Rosangela Cristina Vicente, e Bernadete Antunes. Todos os atos foram devidamente registrados em cartório e constam no livro ata de fundação, sob o número 54822 do livro A-4 com endossamento jurídico do Dr. Carlos Frederico Basile da Silva, advogado inscrito na OAB/RS 39.851.

Durante os meses de maio e junho de 2011 nossa casa promoveu com apoio da Federação Espirita do Rio Grande do Sul e da Ume, um curso de desenvolvimento Mediúnico ministrado as quintas feiras das 19 as 21 horas. Tivemos em média 40 participantes por tema ministrado com a inclusão de mais 4 casas espíritas de Gravataí , alem dos trabalhadores da nossa casa, fortalecendo desta forma os laços de amizade, assim como , o aperfeiçoamento de dirigentes e o corpo mediúnico das Casas Espíritas.

Hoje, nossa Casa Espírita assume uma responsabilidade maior e conta com grupo de estudos, atendimentos de passes isolado e socorro espiritual, magnetismo, atendimento fraterno , evangelização infantil, palestras, Cirurgias Espirituais (sem incisões), prateleira comunitária (arrecadação de alimentos e roupas para famílias carentes),, bem como leva ao público em geral informações valiosas através do nosso blog:
www.carlosaconselhamento.blogspot.com

Departamentos

DIJ - Depto da Infância e Juventude
DAFA- Depto da Família
DEDO - Depto Doutrinário
DECOM- Depto de Comunicação Espírita
DAPSE - Depto de Assistência Social Espírita
DP -Departamento Patrimonial



QUEM SOU EU E O QUE APRENDÍ

QUEM SOU EU E O QUE APRENDI
Alguem que busca conquistar a confiança no ser humano para poder acreditar que o mundo pode ser melhor.Aprendi que, por pior que seja um problema ou uma situação, sempre existe uma saída.Aprendi que é bobagem fugir das dificuldades.Mais cedo ou mais tarde,será preciso tirar as pedras do caminho para conseguir avançar.Aprendi que, perdemos tempo nos preocupando com fatos que muitas vezes só existem na nossa mente.Aprendi que, é necessário um dia de chuva,para darmos valor ao Sol. Mas se ficarmos expostos muito tempo, o Sol queima. Aprendi que , heróis não são aqueles que realizaram obras notáveis. Mas os que fizeram o que foi necessário ,assumiram as consequências dos seus atos. Aprendi que, não vale a pena se tornar indiferente ao mundo e às pessoas.Vale menos a pena, ainda,fazer coisas para conquistar migalhas de atenção. Aprendi que, não importa em quantos pedaços meu coração já foi partido.O mundo nunca parou para que eu pudesse consertá-lo. Aprendi que, ao invés de ficar esperando alguém me trazer flores,é melhor plantar um jardim.Aprendi que, amar não significa transferir aos outros a responsabilidade de me fazer feliz.Cabe a mim a tarefa de apostar nos meus talentos e realizar os meus sonhos. Aprendi que, o que faz diferença não é o que tenho na vida, mas QUEM eu tenho.E que, boa família são os amigos que escolhi.Aprendi que, as pessoas mais queridas podem às vezes me ferir.E talvez não me amem tanto quanto eu gostaria,o que não significa que não me amem muito,talvez seja o Maximo que conseguem.Isso é o mais importante. Aprendi que, toda mudança inicia um ciclo de construção,se você não esquecer de deixar a porta aberta. Aprendi que o tempo é muito precioso e não volta atrás.Por isso, não vale a pena resgatar o passado. O que vale a pena é construir o futuro.O meu futuro ainda está por vir.Foi então que aprendi que devemos descruzar os braços e vencer o medo de partir em busca dos nossos sonhos.



Livros Grátis - Ebooks Grátis Para Download www.LivrosGratis.net

Doutrina Espírita

Doutrina Espírita

sábado, 9 de janeiro de 2010

UM CASO DE REGRESSÃO DE MEMÓRIA - EU SOU CAMILLE DESMOULINS

A EXPERIÊNCIA DE REGRESSÃO DE MEMÓRIA
Hermínio C. Miranda



REGRESSÃO

Para encerrar esta série acerca da regressão de memória, pareceu-me apropriado aceitar uma sugestão para narrar uma experiência pessoal, recente, extensa e bem documentada, sobre a qual será oportunamente publicado um livro, que relatará todo o caso com seus pormenores, datas e nomes. A experiência foi feita com o confrade L. A.

Para entender o fenômeno nos seus antecedentes e nas suas implicações, precisamos admitir como válidas e pacificas algumas premissas fundamentais, ainda que apenas como hipótese de trabalho, se assim desejarem classificá-las os pesquisadores agnósticos. Tais premissas podem ser resumidas da seguinte maneira:



1. O Espírito existe, preexiste e sobrevive e, portanto, reencarna-se.

2. O homem encarnado é um "arranjo" temporário de três "componentes" básicos: Espírito, perispírito, corpo físico.

3. O perispírito tem a faculdade de desprender-se do corpo físico conservando-se, no entanto, ligado a ele por um cordão fluídico.

4. O desprendimento se dá espontaneamente durante o sono fisiológico ou mesmo em estados de relaxamento, como também pode ser provocado por drogas, hipnose, magnetização, exaustão física, choques traumáticos de fundo emocional ou físico.

5. O perispírito traz os registros indeléveis da vida atual do ser, tanto quanto das vidas anteriores, até onde alcança a consciência de si mesmo.



Esse esquema não invalida a classificação da ciência oficial que distribui o psiquismo humano em três planos distintos: consciente, subconsciente e inconsciente. Também não se choca com algumas das mais recentes especulações baseadas em experiências bem estudadas e documentadas.



A reencarnação é hoje uma hipótese admitida com seriedade em elevados círculos científicos. Um dos pioneiros nesse trabalho, o Dr. Ian Stevenson, da Universidade de Virgínia, dedica-se com enorme Interesse ao problema. Seu livro "Twenty Cases Suggestive of Reincarnation" ("Vinte Casos Presumidos de Reencarnação"), publicado nos Estados Unidos em 1966, relata e comenta uma seleção de casos retirados de seu considerável acervo.



O Dr. Andrija Puharich desenvolve, no seu notável livro "The Sacred Mushroom" ("O Cogumelo Sagrado"), a teoria do MCC, "Mobile Center of Consciousness" ("Centro Móvel de Consciência"), segundo a qual admite o deslocamento da consciência e sua autonomia com relação ao corpo físico.



Isso trocado em linguagem espírita quer dizer:



desprendimento do Espírito e sua sobrevivência, embora ele não o afirme com essas palavras. O professor Hamendra Banerjee, da Universidade de Rajastan, na Índia, outro pesquisador da reencarnação, prefere dar ao fenômeno o título de "Extra Cerebral Memorv" (ECM), ou seja, memória extracerebral, desejando com isso dizer - tal como o Dr. Puharich - que a memória independe do apoio da estrutura do cérebro físico.



Essas premissas e conceitos fundamentais são aqui repassados rapidamente, não apenas em beneficio dos que não leram os dois primeiros artigos desta série, mas também para evidenciar que a ciência contemporânea não está desinteressada dos fenômenos da sobrevivência e da reencarnação. Tais noções são consideradas básicas, necessárias, mínimas para entendimento do fenômeno experimental da regressão de memória. E, sem mais digressões, passemos ao resumo do caso pesquisado.



Há muito L. A. vinha insistindo para assistir a uma das reuniões de regressão de memória habitualmente realizadas em nosso grupo. Quando surgiu essa oportunidade depois de acompanhar um outro caso, perguntei-lhe se não desejava também ser testado. Informou-me, então, que tentativas anteriores haviam frustrado, por ser ele refratário à hipnose clássica. Admitiu, entretanto experimentar o método da magnetização por meio de passes longitudinais. Da minha parte havia um receio que se desdobrava em dois aspectos distintos, dado que as experiências até então conduzidas tinham sido meramente exploratórias e fragmentárias. O primeiro desses aspectos era a fantasia. Será que conseguiríamos evitar que ela levasse a melhor e deixasse solta a imaginação, fazendo perder o nosso trabalho?



Outro aspecto era a vaidade. É que, remexendo antigas memórias do nosso ser, não seria difícil dar com uma ou outra encarnação em que ocupamos o centro do palco ou, pelo menos, desempenhamos, em certos acontecimentos, papel de relevo.



Será que. isso não poderia desencadear um processo qualquer de tensão Interior imprevisível?



Valia a pena correr o risco. Procuraríamos manter estrita vigilância e autocrítica imparcial e rigorosa. E assim foi feito o primeiro teste, ao qual o paciente reagiu de maneira surpreendente, mergulhando rapidamente num estado de profundo sono.



Manifestava-se, porém, extremamente agitado; mais do que isso, possuído de intenso pavor. Na sua conversa algo desconexa e fragmentária, consegui identificar sua preocupação com Necker - que ele pronunciava à maneira francesa: Ne-quêr.



Isto nos levava ao período da Revolução Francesa, mas a inquietação do sensitivo era muito grande e achei prudente despertá-lo. Acordou ainda assustado, fixando-me com um olhar profundo e aterrado, até que me identificou e se situou na consciência do presente.



Estava com fome e ainda não tinha recuperado o controle de todo o corpo, porque a tentativa de caminhar resultou num tombo, felizmente sobre o tapete macio, de onde o levantamos para depositá-lo no sofá. Em poucos minutos estava em estado absolutamente normal, mas sem nenhuma consciência do que se passara durante o transe do desprendimento.

Eu tinha mais perguntas do que respostas.



Com quem falara eu?



Seria algum Espírito desencarnado que se manifestara?



Seria o próprio L. A., mergulhado nas lembranças de uma existência anterior?



Qual seria a identidade daquele ser?



Que estivera fazendo e pensando naqueles momentos de temor?



Notei que ele desconfiara de tudo e de todos. Não quis dizer quem era nem o que fazia. Pairava sobre seu espírito um terror indefinível, mas todo poderoso e onipresente.



Era certo, porém, que revivia episódios da Revolução, dado que Necker foi Ministro importante naquele período agitado da nação francesa.



De qualquer forma, a pesquisa se anunciava bastante promissora e convinha aprofundá-la cautelosamente.

Marcamos, pois, dia e hora para um trabalho sistemático e cercado de toda a segurança. Assim, a 19 de maio de 1967 Iniciamos a tarefa.



Ao cabo de alguns minutos de passes longitudinais, L.A. encontrava-se na sua Infância, com todas as características da mente infantil. Morava com a família. O pai e a irmã trabalhavam fora. Respondeu corretamente à pergunta sobre os nomes de sua gente. Sabia que residia perto da estação, mas não era capaz de dizer o nome da cidade. Queixava-se de que a mãe não o deixava jogar bola na rua. Como eu lhe dissesse que o achava muito criança para isso, respondeu meio amuado:



Mas os outros jogam...



Em seguida, aprofundando o sono, com passes continuados, foi recuando mais e mais no tempo. A regressão foi conferida novamente aos dois anos de Idade até que, ao cabo de mais alguns minutos, parece ter transposto a barreira do tempo. Sua voz era agora de um adulto perfeitamente consciente de si e seguro nas respostas. Nada restava da mentalidade infantil de há pouco. Fui aos poucos sacando a sua história. Estudava no Colégio Louis-le-Grand, em Paris. "Estávamos", naturalmente, em l785 e ele tinha 25 anos de idade, encontrando-se no último ano do curso de Direito. Nesse ponto, começou a notar algo familiar em mim. Declarou que me conhecia, mas não podia lembrar-se de como, de onde e nem de quando. Minhas perguntas lhe pareciam impertinentes e incompreensíveis. Ia ele pela rua afora e de repente me encontra e eu começo a lhe disparar questões absurdas, algumas das quais se recusa formalmente a responder-me.



Acabou por me localizar na memória. Eu seria um certo Robert, sobrinho de um amigo de seu amigo Mirabeau.



- Você conhece o Mirabeau?



Que deveria eu responder? Não.



Em suma, esse amigo do Mirabeau, de cuja amizade muito se orgulhava o meu interlocutor -fosse ele quem fosse - era um tal de Browning e viera à França para cuidar de umas operações financeiras com Mirabeau. Aí, porém, as coisas lhe estavam muito confusas porque, segundo se lembrava muito bem, ele me conhecera em 1791 e eu teria por essa época não mais que uns dez ou onze anos de idade e ele me via agora um homem feito e a formular-lhe perguntas idiotas. Muito confuso... Ah! o nome do "meu tio" era Rueben.



E ele, como se chamava?



Respondeu pausadamente, com visível orgulho e satisfação:



Lucie Simplice Benoist Camille Desmoulins.



Nesse ponto, foi despertado. Esta, como todas as demais experiências, foram cuidadosamente gravadas.

Começa, então, a desenrolar-se uma verdadeira novela em sucessivos e emocionantes capítulos, baseados, porém; numa realidade histórica irrecusável, longe da ficção.



Uma pesquisa preliminar, na Enciclopédia Britânica, única fonte de referência ao meu alcance no momento, confirmou o nome por extenso de Desmoulins e outros dados precisos, como data do seu nascimento, em 2 de março de 1760, e local: na cidade de Guise, em Aisne.



Quanto ao problema do "meu tio", era mais complexo, pois que eu não dispunha de pronto de elementos para conferir. Embora eu tivesse conhecimento daquela minha encarnação na Inglaterra, na família Browning, não sabia da existência de um tio com o nome Rueben, nem se em 1791 fora a Paris. Quanto à idade, conferia, pois naquela existência eu teria renascido em 1781 e, portanto, em 1791 estaria realmente com dez anos, como ele estimara. E o tio?



Na sessão seguinte, uma semana depois, disse ao sensitivo, já mergulhado no transe, que ele provavelmente se enganara, porque ao que pude apurar, tive um meio-irmão (por parte de pai) chamado Rueben, mas não um tio. Mas ele insistia em que era tio e se chamava Rueben. Descobri mais tarde, num documento que mandara vir da Inglaterra, que ele tinha razão: houve um tio Rueben Browning, por sinal alto funcionário de um banco e que trabalhava para os Rotschild, em Paris.



A coisa assumia, assim, características de autenticidade, mas havia um aspecto que me intrigava bastante. É que no estado de transe, o sensitivo parecia ter acesso exclusivamente à sua memória de Desmoulins, ignorando totalmente a existência de L. A., os conhecimentos e as crenças deste. Por que o hiato? Meditando durante o intervalo entre uma experiência e outra, conclui que ele evitava cuidadosamente a cena terrível da decapitação, e era tal o seu pavor de passar novamente por ela que as lembranças perderam a continuidade naquele ponto e funcionavam como se retidas em compartimentos estanques, incomunicáveis. Para unir, portanto, as duas pontas era preciso vencer aquele bloqueio. E a oportunidade não tardou.



Falava ele sobre a possibilidade de prosseguir com a Revolução, mantendo no trono o Rei. Desejei saber, então, em que ano "nos encontrávamos". A pergunta, como tantas outras, era ridícula para ele, pois, naturalmente, estávamos em 1793. Pedi então que ele fosse em frente no tempo e me dissesse o que aconteceu depois disso. Senti que ele parou para pensar ante o absurdo que lhe propunha aquele estranho interlocutor. Se estávamos em 1793, como é que ele poderia saber o que iria acontecer no futuro? E perguntou, para corrigir:



- Você quer dizer antes de 1793, não é?



- Não - respondi implacável. - Quero dizer depois mesmo. O seu espírito sabe. Vamos em frente.



VI montar a agitação e o pânico, até que reviveu a Indescritível e penosa cena da decapitação. Invoquei o socorro dos nossos amigos espirituais para que tudo fosse feito com segurança e apliquei-lhe prolongados passes de imposição. Ao cabo de alguns momentos, banhado em suor, chorava por Lucíle, sua esposa, e que ficara abandonada ao Terror e aos seus inimigos políticos. (Foi também decapitada dias depois.)



Acabou por se convencer, diante da evidência e da minha insistência, que, apesar da morte, permanecia vivo, o que contrariava formalmente suas expectativas, pois era totalmente descrente da sobrevivência e da existência de Deus. Mas, fatos eram fatos: estava vivo, não havia dúvida, pois continuava a pensar e a falar depois da agonia terrível da guilhotina.



Havia, pois, um bloqueio impedindo o livre trânsito de suas recordações entre a vida anterior e a presente. Como Camille, não sabia da existência de L. A., nem mesmo admitia as idéias que hoje aceita e defende. Creio que podemos supor ai um mecanismo de fuga, dado que seu espírito, ainda traumatizado, evitava enfrentar novamente a penosissima lembrança da guilhotina, abandonando deliberada-mente todas as vivências posteriores. Vencida a barreira, realiza-se notável fenômeno de aceitação e de integração da personalidade. Dai em diante, pode recordar-se tranqüilamente da vida como Desmoulins sem novamente sofrer as angústias e tensões de então, ou por outra, na sua linguagem, sem "estar lá". A nova realidade, não obstante, não invade subitamente seu espírito como o clarão de um relâmpago, mas sim como a gradativa iluminação de um amanhecer. Dá-se, então, um momento de profunda beleza e poesia.



Perguntado o que acontecera depois da "morte", respondeu que viera para o Brasil.



Fazer o quê?



- Viver - foi a resposta.



Quanto a Lucille, era fácil para mim supor que, de alguma forma ou de outra, deveria continuar ligada ao seu espírito. Informou-me ele, então, que Lucille Desmoulins renascera como Ana Lúcia, sua filha atual. Depois, haveríamos de verificar, ainda, que o nome verdadeiro de Lucille era Anne Lucie, ou seja, Ana Lúcia, e que ambas nasceram no mesmo dia e mês, 24 de abril, com uma diferença de cerca de cento e oitenta anos. Ainda não foi possível conferir essas datas, porque não encontramos referência ao dia do nascimento de Lucille, mas uma discrepância aí seria a primeira em todo um acervo enorme de dados.



Aliás, é preciso acrescentar aqui que não procuramos estudar em maior profundidade a Revolução Francesa, senão depois de algumas sessões, porque se poderia alegar que estávamos apenas sacando do nosso subconsciente as informações que vinham surgindo ao correr dos diálogos gravados. Era preciso, no entanto, verificar alguns dados e fatos para que pudéssemos avaliar até onde se podia confiar nas revelações e evitar que enveredássemos pelo caminho da fantasia inconseqüente. Há sobre isso um episódio interessante, entre muitos outros que seria impraticável reproduzir num simples artigo. O sensitivo informou, certa vez, em transe, que a Sra. Duplessis-Laridon, mãe de Lucille, era conhecida na intimidade por Madame Darrone. Por multo tempo pesquisei esse ponto, sem o menor resultado. Cerca de dois anos depois, ao passar por uma livraria, em companhia de L. A. e de César Burnier - que desempenha nesta pesquisa Importante papel -, encontrei num velho volume de história da Revolução a confirmação de que Mme. Duplessís tinha o apelido de Madame Darrone.



Outro problema havia extremamente curioso. No estado de transe, L. A. gaguejava de maneira bastante peculiar. Não era a gagueira simples de quem repete, mas sim daquele que se demora nas sílabas iniciais e depois solta o resto da palavra de um só impulso. Seria Camille Desmoulíns gago? Não quis formular a pergunta de modo direto. Perguntei-lhe se ele fora bom orador. Respondeu que, muito pelo contrário. tinha grande dificuldade em falar. Esse era, aliás, um dos pontos mais sensíveis da sua personalidade, evidentemente vaidosa, e ainda mais que Robespierre o fazia sofrer muito com isso, pois zombava impiedosamente dele. A Lucille, não. Ela compreendia e era paciente com o seu defeito. 5:



de falar nisso. entretanto, sua agitação mal-estar foram num crescendo a que tivemos de pôr fim, mudando de assunto, pois se queixava de que estava ficando muito nervoso.



E, nessas conversas semanais, às vezes. por mais de uma hora, gravamos o fantástico diálogo por cima da barreira do tempo, à medida que se desenrolava diante de mim o relato da Revolução Francesa por uma testemunha ocular que vivera muitos dos seus mais destacados episódios. Lá estavam no seu depoimento as figuras controvertidas de Robespierre e de Marat (atualmente reecarnado no Brasil, onde se destacou novamente como político, jornalista e orador brilhante).



Tanto quanto vultos menores, tais como Saint-Just, Madame Rolland e inúmeros outros, conhecidos ou obscuros. E nesse desfile de passadas grandezas e misérias, no entanto, avultava a notável personalidade de Danton, por quem Camille revelava Irrestrita admiração.



- Danton era homem! - dizia ele, cheio de respeito.



Tendo subido juntos à guilhotina - e ele sabia muito bem o nome de todos os companheiros de execução naquele dia - eu lhe perguntei como morrera Danton e ele, absolutamente coerente, respondeu que não sabia porque fora guilhotinado antes do grande orador. Relatou, porém, episódios pessoais apagados, que a História nem sequer registra ou apenas menciona de passagem em poucas palavras. Um deles nos serviu para verificação multo Interessante.



Recebi um dia, antes da sessão, um envelope fechado contendo solicitação de um amigo que me pedia para formular a L. A. uma pergunta, depois que ele estivesse em transe.



L.A. Ignorava, naturalmente, o teor da pergunta.



Alcançado o transe, formulei a pergunta, que dizia respeito a uma frase que Desmoulins teria dito aos seus amigos, numa reunião em sua casa e que assumira o tom melancólico de uma despedida, já em pleno reinado do Terror.



Feita a pergunta, ele desejou saber se era Importante, ou seja, se valia a pena o esforço de buscar na memória a Informação solicitada. Disse-lhe eu que julgava importante, de vez que era um teste. Ele calou-se por alguns Instantes, depois de dizer que, sendo assim, iria lá. Iria como? E lá onde? Não sei. Em seguida, disse-me que já estava lá. Repeti a pergunta e ele narrou o caso.

Foi realmente uma festa na sua casa. O Terror campeava, e muitos dos presentes sentiam-se já com os dias contados. Para não afligir sua mulher, Camílle citou uma frase latina que dizia:



"Comamos e bebamos que amanhã estaremos todos mortos".



Era essa de fato a frase que a pessoa queria saber e isso lhe foi comunicado naquela mesma noite, já tarde, pelo telefone. Conferiu, mais uma vez. Um problema, no entanto, restava. Havia, obviamente, uma diferença entre reviver os episódios e apenas recordar-se deles.



Qual a mecânica dos processos e como se decidia ele por um ou por outro?



Como se realizava esse deslocamento no tempo e no espaço?



E se era espaço mesmo, no sentido em que o entendemos, onde estava hoje aquela cena com a presença de seus amigos, as alegrias e as tensões do momento de angústia e a lembrança da frase latina pejada de presságios sombrios?



Notava eu, por outro lado, que a recordação era serena ou, pelo menos, sob a Influência de uma emoção normal e contida, ao passo que a revivescência dos episódios trazia consigo, ao vivo, toda a carga emocional que neles se continha - suas dores, suas aflições, suas alegrias, tensões e esperanças.



Muitos outros pormenores temos de sacrificar para não alongar demais esta breve notícia; julgo conveniente, porém, relatar mais um, pelo seu notável valor probante. Num dos seus prolongados diálogos, em transe, referiu-se o sensitivo sobre uma irmã morta em conseqüência de um "ramo de ar". O Inusitado da expressão despertou minha curiosidade. Como era mesmo em francês? "Branche d'air", confirmou ele. Mas que doença era essa? Ele não sabia explicar, mas Informou que essas palavras eram empregadas por um cidadão português chamado Lopes, dono de um café onde Intelectuais, artistas e revolucionários sonhadores se reuniam para comer, beber e discutir suas teorias. Chamava-se esse famoso bar: Café Procope, e existe até hoje, em Paris. Consegui, através de um amigo, um cartão postal no qual se confirma que ali se reuniam nos velhos tempos figuras que a História consagrou, como Danton, Robespierre, Marat e outros. Dizia o Lopes que, tomando cerveja e berrando daquele jeito, eles acabariam morrendo dum...



Por muito tempo pesquisei inutilmente a razão de ser da expressão, até mesmo em léxicos franceses altamente especializados. Um dia, porém, demos com ela numa enciclopédia portuguesa (de Portugal). A expressão existia realmente e era uma espécie de "estupor", ou seja, uma crise circulatória. O bom do Lopes estava, pois, Introduzindo um neologismo, de origem portuguesa, no seu boteco em Paris.



No meio de tantas emoções, sob o impacto daquelas memórias revividas da Revolução, uma sessão especial ficou muito bem demarcada. É que, à medida que o trabalho prosseguia e dele tomavam conhecimento alguns amigos mais íntimos, houve uma curiosidade muito grande e também o desejo de fazermos mais alguns testes. Combinamos, assim, uma reunião com um grupo reduzido, do qual fazia parte um médico (que constatou na hora a ausência dos reflexos no sensitivo, durante o transe) e alguns companheiros de doutrina, de inteira confiança, pois a seriedade do trabalho e os cuidados que tomávamos não permitiriam que fosse transformado em espetáculo público.



No dia e hora aprazados, vieram os amigos previstos, mais um senhor, desconhecido meu e também de L. A. Fomos apresentados naquele momento. Chamava-se César Burnier, era advogado, funcionário aposentado do Ministério da Fazenda. Viera na sua dupla condição de espírita e de profundo conhecedor da história da França, em geral, e da Revolução Francesa, em particular.

Iniciamos os trabalhos, como sempre, com uma prece e logo que L. A. atingiu o transe anunciou que se encontrava presente o Marius. Quem seria Marius, porém? Descobrimos depois que Marius era um apelido que Lucile havia colocado em Danton e a figura do grande orador revolucionário foi então identificada com César Burnier que, aliás, tinha conhecimento dessa identificação, mas nunca a apregoara por natural sentimento de reserva.



Presenciamos, então, uma das cenas mais emocionantes de toda a série de experiências, pois naquele exato momento, na sala carregada de tensão, no meu apartamento, em Botafogo, reencontravam-se, após 173 anos, Camille Desmoulins e Jacques Danton. A última vez que se viram "em vida" foi no palco sangrento da guilhotina, momentos antes do surdo golpe da lâmina implacável. E por sobre mais de século e meio reata-se uma amizade que o fio de aço cortou, no mesmo ponto em que a deixaram os dois espíritos. Conta a História que, já no patíbulo, Danton e Desmoulins, velhos amigos e companheiros, quiseram trocar um beijo fraterno de despedida, antigo costume francês. O carrasco recusou a permissão e Danton, o grande fazedor de frases espetaculares, declarou:



Que importa, se nossas cabeças se beijarão dentro de alguns instantes no cesto?



É que havia um cesto que recolhia as cabeças decepadas. Cento e setenta e três anos depois, mal se reencontraram, Camille Desmoulins, renascido em L. A., me diz:



- Hermínio, pede ao Danton que me dê um beijo...



César curvou-se respeitosamente e depositou o beijo há tanto tempo devido sobre a testa do amigo reencontrado. Era insuportável a emoção de todos os presentes, mas especialmente dos dois protagonistas que no século XX reatam uma amizade que floresceu tragicamente no século XVIII.



O diálogo prosseguiu difícil, pois a tensão era grande e L. A. dependia exclusivamente de mim, para dialogar com Danton-César, porque, em 'rapport" comigo, não ouvia César. Este, porém, ficou convencido de que a Revolução não tinha segredo, nem mesmo nas suas minúcias, intimidades e bastidores, para o sensitivo em transe.



Mais outra identificação se faria naquela noite memorável, pois L. A. declarou que também se encontrava presente, entre nós, o abade Bossut - e disse o nome atual da pessoa indicada (A. i. M.). Segundo ele, o abade havia sido professor de matemática e física ao tempo da Revolução, especialista em hidráulica e autor de várias obras didáticas sobre tais assuntos. Camille, que estudara nos seus livros, lhe teria arranjado um salvo-conduto que o livrou da fúria assassina do Terror. (Veremos depois a razão de ser deste episódio.) O problema, no entanto, consistia em descobrir aquele obscuro Bossut. Terminada a sessão e repassadas por todos as emoções ali vividas, pusemo-nos à procura de Bossut na enciclopédia. Seria Bossy? Ou Bossit? Ou Bossu? Nada se encontrou naquela noite, nem nos dias que se seguiram, mas acabamos por localizar as referências. Descobri um dia um verbete sobre ele em velhos livros franceses na Biblioteca Pública de Barra Mansa. Chamava-se Charles Bossut, fora realmente sacerdote e matemático, escrevera livros sobre sua especialidade, destacando-se obras sobre hidráulica e viveu na época da Revolução. Dizia até o livro que, já nas últimas, desinteressado da vida e sem reagir a nada, somente uma coisa o fez falar. perguntaram-lhe qual o quadrado de 12. O velho professor então não saberia disso? Respondeu firme:



- Cento e quarenta e quatro.



Foram suas últimas palavras. O abade Bossut renasceria outra vez na França, onde se tornou um grande cientista e pensador, apoiando seu enorme saber nas suas velhas e familiares disciplinas - a física e a matemática. Chamou-se, nessa vida, Henri Poincaré, figura eminente da ciência mundial. Acha-se novamente encarnado, desta vez no Brasil, longe do brilho e das pompas acadêmicas, devotado à sua família e ao movimento espírita, no qual se destaca merecidamente pelos seus dotes morais e intelectuais.



Outra identificação: a do abade Bérardier, diretor do Colégio Louis-le-Grand e muito estimado por Desmoulins, tanto que foi seu padrinho de casamento. Atualmente está reencarnado na pessoa de um médico-professor, sendo outra vez padrinho do casamento de L.A.



Um dia, resolvemos fazer um mergulho mais profundo no passado e, de século em século, fomos dar no século XV.

Naquele tempo, L.A. -Desmoulins, teria sido um membro da família real de França - os Valois - na pessoa de Charles, Duque de Orléans, sobrinho de Carlos VII e pai do futuro Luiz XII. Charles foi poeta, e orgulhoso. Casou-se várias vezes. Quando lhe perguntei o nome de sua esposa, ele me respondeu com outra pergunta:



Qual delas?



Praticou gestos de crueldade que agora, ao se descobrirem diante dele as nesgas do passado, causam impactos de desgosto e arrependimento.



Contou, como em penitência, que mandava descarnar a perna de seus prisioneiros e os obrigava a andar diante dele. Não admira que viesse a ser decapitado séculos depois .. Mesmo agora, a quinhentos anos de distancia - meio milênio -, ainda parece que suas antigas crueldades, que hoje o repugnam, repercutem teimosas e persistentes em dores cármicas, pois num acidente de infância teve, nesta vida, uma perna quase Inteiramente descarnada ao vivo e quase a teve amputada pelos médicos, desesperançados de vê-lo bom. Salvou-a, no entanto, mas conserva doentia sensibilidade para qualquer Intervenção ou acidente que leve um Instrumental ao contato com os seus ossos. Daí o seu pavor Irracional ao dentista, diante de quem muitos de nós podemos não nos sentir multo bem, mas não chegamos às fronteiras do pânico.



Charles d'Orléans foi capturado pelos Ingleses na Batalha de Azlncourt e passou 25 anos na Inglaterra, em prisão mais ou menos relaxada, mas vigiada com rigor, até que se arranjasse em França dinheiro suficiente para resgatar sua vida, na qual os Ingleses, excelentes businessmén, colocaram uma vistosa etiqueta de preço. O dinheiro foi obtido por meio de um casamento particularmente feliz, com uma senhora muito rica. Também o seu casamento com Lucíle Duplessis, ao tempo em que foi Camille Desmoulins, não estaria completamente a salvo de interesses financeiros, não obstante a grande paixão que os uniu depois. Ele próprio o confessa em carta dirigida ao pai. Este, aliás, é um ponto que merece referência especial, entre tantos outros que temos de sacrificar para não alongar demais o relato.



Retornemos, por alguns momentos, ao episódio Desmoulins.



Como já disse, procuramos não ler nada de substancial sobre a Revolução Francesa para não influenciarmos, com o nosso conhecimento, as lembranças que iam surgindo. Fomos, no entanto, um dia, à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, para "checar" alguns pontos. E numa obra de J. Claretie sobre Desmoulins encontramos a reprodução de uma carta-autógrafo de Camille ao pai. Tentamos ler o documento, mas a letra, multo reduzida, é ilegível, Impraticável. Dava para ler apenas a introdução: "Mon três chêre Pére". Nada mais, a não ser uma ou outra palavra solta, insuficientes para formular um juízo sobre o conteúdo da carta.



Na sessão seguinte, resolvi testar mais uma vez a memória integral de L. A. e lhe pedi que me reproduzisse o texto da carta, o que ele começou a fazer, em francês - habitualmente falava português. Acabou resumindo o texto em português mesmo. A carta, de um Camille em permanente estado de penúria financeira, dirigida a um pai bastante agarrado ao seu dinheiro, pede ao velho Desmoulins, residente na cidadezinha de Guise, permissão para se casar. Para "facilitar" o consentimento, apressa-se em informar que a moça é rica e que, com o casamento, todos ficariam muito bem. Que mande logo, pois, os documentos necessários. O velho deve ter providenciado tudo como solicitado, pois que o casamento não tardou. Consegue, assim, reproduzir o conteúdo da carta em estado de transe, quando em estado de vigília não foi possível nem mesmo lê-la. Depois que conhecemos o texto, porém, e o a e o ampliamos por meio de projeção de um "slide", conseguimos, ainda que com alguma dificuldade, ler e conferir o texto escrito com a narrativa feita em transe.



Ainda uma palavra final, para concluir, mesmo ao risco de me tornar repetitivo.



A pesquisa feita confirma os postulados da Doutrina Espírita, tal como foi codificada por Allan Kardec. Não há um desvio, uma falha, um desmentido; tudo confere. Poderia dizer-se que assim é porque o trabalho foi conduzido por um espírita militante e convicto, na pessoa de outro confrade, igualmente convicto. Será, porém, que somos suspeitos simplesmente porque somos espíritas? Ou será que, ao contrário, estamos em melhores condições de pesquisar exatamente porque somos espíritas? Creio firmemente nesta última alternativa. Vou mais longe, ao afirmar enfaticamente que a pesquisa neste campo somente será bem conduzida e renderá seus melhores resultados quando realizada por quem, pelo menos, conheça em certa profundidade os postulados da doutrina, ainda que não seja espírita praticante. É que nesse trabalho estamos manipulando os mecanismos do Espírito encarnado; e quem poderia conhecê-los melhor do que o estudioso do Espiritismo? Isso não quer dizer que a pesquisa tenha de ser feita necessariamente por espíritas, como "donos" do assunto. Não importam as crenças ou descrenças de quem a faz: encontrará sempre os mesmos resultados, as mesmas realidades, ou seja, a sobrevivência, a reencarnação e os dispositivos da lei de causa e efeito, atuando implacavelmente sobre o ser, na sua caminhada evolutiva. Se o pesquisador aceita essas realidades, tanto melhor; se não as aceita, que importa? Deixará de ser um fato a reencarnação ou a sobrevivência somente porque este ou aquele pesquisador não acredita nelas? Algum materialista ou ateu deixou de sobreviver à morte física por causa de suas descrenças? Jamais. Na verdade, o que acontece é o terrível impacto de uma incômoda realidade "post-mortem", que derruba dos seus pedestais todos esses ídolos ocos e vaidosos. É o que testemunhamos inúmeras vezes nas nossas sessões mediúnicas e é o que verão todos aqueles que desejarem ver. Os fatos estão aí mesmo, à disposição de todos. A única diferença é que nem todos têm "olhos de ver". Pelo menos, não vêem senão aquilo que querem ver, o que é a mesma coisa. Estamos, pois, à espera de mais cientistas e pesquisadores espíritas. Deixa falarem que seriam suspeitos.



Que fizeram até hoje os insuspeitos? Ai está o exemplo da parapsicologia de Rhine, repetindo a metapsíquica de Richet. Amanhã, daqui a 50 anos, virá outro Richet para repetir Rhine, tudo absolutamente insuspeito porque não eram espíritas... Enquanto isso, os descrentes seguem sua vida vazia, os desesperançados se desesperam e milhões vivem sem rumo à espera do recado da ciência que continua a se monotonamente o mesmo: "Nada encontramos que justifique a crença na sobrevivência. É uma hipótese simpática e agradável, mas improvada".



Deixemo-los com suas descrenças e vamos em frente, que o tempo urge.





(A Pesquisa que resultou neste artigo que foi publicado na revista Reformador de agosto 1972, já virou um livro maravilhoso que é “Eu sou Camille Desmoulins” editado pela editora Lachatre. Editora lachatre



Eu sou Camille Desmoulins . O caso que compõe o livro da autoria conjunta de HCM e de Luciano dosAnjos, Eu sou Camille Desmoulins. Nele veremos uma experiência de RMVP onde o co-autor L.A. reconhece-se como Camille Desmoulins, um dos líderes da revolução francesa. Nesse processo muitas informações foram registradas em fita K7 no momento do transe e com um excelente trabalho de pesquisa histórica posterior pode-se avaliar essas informações. Interessante observar que Luciano dos Anjos, tem muita simpatia pela França e fala bem o Francês, daí a facilidade para declinar endereços e frases em francês. O método de obtenção do transe foi através do passe magnético com sugestões e foram realizadas cerca de 10 seções com aproximadamente uma hora cada uma.O sensitivo relata que no momento do transe ficava "inconsciente" ou sejanão tem lembrança do que se passou. Vejamos o que ele diz com relação àssuas sensações durante o início do processo: --- Fechei os olhos e me estendi na poltrona, procurando relaxar todos osmúsculos do corpo. Até as pálpebras, procurei deixa-las como mortas. Ouvia a voz monótona do Hermínio, enquanto fixava o interior negro de minha própria visão. Depois de 10 minutos, comecei a ficar ligeiramente tonto e sentir a total paralisação dos músculos e tendões. A tonteira foi aumentando e a respiração tornando-se cada vez mais difícil. Eu ofegava. A cabeça passou a girar cada vez mais rápido. As mãos e os pés começaram a formigar ligeiramente; e depois, mais e mais. O formigamento foi subindo e, na medida em que atingia outras partes do corpo, deixava as anteriores anestesiadas, completamente insensíveis. Minha ausência de controle psíquico era total... e após isso perdi a consciência. Passada essa fase de indução, seguia a conversação buscando extrair asinformações. Nas primeiras seções, apesar do transe profundo os diálogos não foram muito produtivos, isso talvez pela "falta de prática" do sensitivo. Exemplo: __ Descreva o que vê. __ Uma sala grande... muitas janelas... muitas. Passadeiras, quadros. __ Tem mais alguém aí ? __ Não. Estou esperando alguém. __ O que você foi fazer aí ? __ Acho que tínhamos um encontro. Agora já chegou. __ Como é esse amigo? __ É uma mulher. __ Como se chama? __ Therèse. É minha amiga; ou noiva.. ou irmã...não sei... de um amigo meu. Após algumas seções os diálogos mostram-se consistentes e com muitosdetalhes pessoais e históricos. Exemplo: __ Nessa época havia notas, moedas? Quanto representava? __ Tinha. O "louis". __ Como se repartia em moedas de menor valor. __ O "sou". __ Quanto valia um "sou" ? __ Um "louis" tinha... um "sou" era a quarta parte. Vinte e cinco"sous" faziam cem "louis"... Havia notas também. A "livre". __ Quanto custava os seus jornais? Cada exemplar. __ Ah... Cinco sous. O que impressiona nesse caso, além da dramaticidade incorporada ao diálogo, é a grande quantidade de informações históricas difíceis de serem encontradas. Tendo de ser buscado a comprovação hora numa obra, ora em outra. E praticamente todas as informações se mostraram acertadas. A seguir mostro uma relação de informações obtidas nesse estado: * Nome: Camille, Lucie Simplice Benoist Camille Desmoulins.* Ano de nascimento: 1760* Local de nascimento: Guise* Onde mora: Paris* Faculdade: Direito.* Esposa: Lucile. O nome verdadeiro, Anne-Louise Philippe Laridon Duplessis, nasceu em 24 de abril de 1771. * Pai: Jean-Nicolas Benoist Desmoulins, Advogado, magistrado da corte em Aisne.* Mâe: Marie Madeleine Godart.* Irmãos: Sete. Henriete que morreu com 9 ou 10 anos, Marie-Toussaint, Armand, Anne, Lazaré, Clemente e Lucie(eu).* Sogro : Claude Etienne Laridon-Duplessis, trabalhava na Fazenda Pública.* Sogra: Madame Duplessis. Eu a chamava de Madame Darrone. Darrone é Patroa, é gíria.* Saída de casa: 13 para 14 anos, queria sair de Aisne.* Onde estudou: Colégio Clermont, depois mudou para Louis-le-Grand na Rue Saint Jacques.* Amigo do tempo do colégio: Leon... Robespierre, ele foi padrinho de nosso filho, Horace. Ele já estava lá quando cheguei.* Livro que leu antes da guilhotina: Méditation sur le Tombeu, de Jonh Hervey.* Melhor amigo: Danton, morava na cour de commerce, número 1.* Parente: Fouquier-Tinville, Atuou na revolução. Um crápula. Primo distante.* Primeiro Trabalho: Arranjado pelo primo por parte de mãe, Viefville Desessart.* Primeiro jornal publicado: Les Révolutions... Custava 5 sous cada e produção saía por 100 sous, 1 louis.* Salário do tipógrafo: 25 a 30 sous por mês.* Salário de um advogado: 5 ou 6 mil livres por ano. Os detalhes das informações são impressionantes, e o nosso espirito crítico já tende a conjeturar que são muitos acertos para um só caso, nos levando a supor alguma espécie de fraude por parte do sensitivo. Talvez ele tivesse estudado tudo isso e conscientemente tivesse dando somente uma demonstração de seus conhecimentos adquiridos. No entanto a maioria das informações foram dadas em repostas a perguntas não previamente fornecidas sem nem sequer o pesquisador saber se existiam em livros ou não, o que só seria confirmado em pesquisa posterior. Algumas vezes as perguntas eram preparadas previamente e sem o conhecimento do sensitivo. Uma certa vez, uma terceira pessoa, Murilo Alvim Pessoa - Professor, formulou uma pergunta e lacrou em um envelope o qual somente foi aberto no momento que o Luciano já estava em transe. Vejamos o diálogo: __ Sobre um jantar de despedida, já muito na tensão, na expectativa de ser preso... Você teria dito uma frase, provavelmente não em Francês, e que alguns historiadores registraram. (Longos momentos de silêncio e expectativa. De repente, sua respiração sealtera,... o tom de voz se modifica...) __ Eu sei o que ele quer. Foi um jantar... em minha casa. Foi antes de euser preso. Eu e Danton. Brune estava presente e queria que eu parasse depublicação do Viex Cordelier.... É isso que ele quer. É Latin. Foi..."Edamus et bibamus, cras enim muriemmur!" ; "Buvons et mangeons, nousmourrions demain." __ Comamos e bebamos que amanha seremos mortos--- digo eu. Em muitos momentos a seção passa a ter um caráter coloquial, uma verdadeira conversa entre amigos, onde as informações vão surgindo naturalmente de acordo com o assunto. Vejamos alguns trechos: __ Você conheceu o Marat? Era meio maluco, mas eu gostava dele. __ Era seu amigo? __ Era. Me chamava de filho! Depois brigamos... __ Ele era bom orador, não era? __ Marat? Era bom... um pouco teatral... __ E como escritor? __ Quase igual a Hébert. Muito violento, Dizia coisas horríveis no jornaldele. __ Como se chamava o jornal dele? __ L'Ami du Peuple. Depois apareceram outros. ... Ele estudou medicina. __ Ele exerceu a profissão? __ Exerceu. Fazia umas experiências, tinha um laboratório. __ Experiências sobre o quê? __ Negócio de eletricidade...com bichos...Era meio maluco. __ Mas muito inteligente não é? __ Era... queria entrar para a academia, com umas teorias... __ Que teorias eram essas? __ Ih! De doenças, de reações físicas... Não entendo disso. OCondorcet ... era o presidente da academia. Não aceitou a tese. Ele brigou.Ele tinha valor. Sofreu muito. Perseguido, teve de fugir... Era pobre... Ih!Uma vida agitada...toda ela...Depois quis orientar os constituintes.Investiu contra o Lafayete. Nota: Condorcet, considerado o "último dos filósofos", seria antesum teórico da Revolução e seu precursor, não um revolucionário. Outro trecho : __ As senhoras, como se vestiam? __ Roupas compridas... Saiões... Muitas anáguas, corpetes. __ O espartilho é dessa época? __ É. E estolas bonitas, grandes. __ Lucile gostava de vestir-se bem, não é? __ Bem... Lucile era muito bonita! Pequenina, mas bonita. Igual aMãe. Você sabe duma coisa? Que ridículo! Você sabe que, no início, eugostava da mãe dela? __ É? Isso é muito comum, os adolescentes às vezes se apaixonam por pessoas mais velhas. __ Ela era bonita! Você sabe que tinha um fulano... era oHèbert...Hèbert! Chegou a dizer... Madame Darrone era bonita. Dizia quemonsieur Duplessis havia subido na vida à custa dela. Uma infâmia! ComTerray... Você ouviu falar em Terray? Terray da fazenda pública, teria dado o cargo a ele, e que Lucile não era filha...Ora que coisa! Que infâmia! Que ela era filha bastarda.... Infâmia! Foi o Hèbert... foi ele... inventou essa história. Xingava-me, perseguiu-me. Foi ele... Nota: Interessantíssimo fragmento informativo, surgindo assim,espontâneo e incidental, no decorrer de uma narrativa. Se eu (HCM) ouvirafalar de Terray? Jamais! Um dos mais ilustres desconhecidos para mim, e não foi muito fácil de localizá-lo, até que o achei em Will Durant... Lá está ele. Foi ainda ao tempo de Luís XV, quando os ministros duravam somente enquanto conseguiam arranjar dinheiro; situação que se estendeu até o reinado de Luís XVI. Terray (Joseph-Marie Terray) subiu ao poder como um dos componentes do triunvirato que substitui a Choiseul d'Aiguillon, como ministro do exterior. Esse era o homem sobre o qual eu nunca ouvira falar e, certamente nem o Luciano, no estado de vigília. A ele é que as más línguas da época atribuíam o êxito de monsieur Duplessis e a paternidade de Lucile. A hipótese da criptomnésia pode ser facilmente descartada, pois não fazsentido imaginar que alguém tenha estudado tão profundamente uma matéria a ponto de saber as moedas e as conversões entre elas, e não lembrar-se de ter feito uma profunda pesquisa histórica sobre o tema, tendo que inclusive ter estudado em 3 ou 4 livros específicos, incluindo algumas bibliografias sobre aquele personagem. Nas minhas experimentações pessoais pelo menos dois sujeitos se mostraram em condições de fornecer dados próximo ao que foi obtido nesse caso, a diferença fundamental é que essas personalidades não tinham nenhumaexpressividade histórica, não podendo ser feito uma checagem quanto aosdados pessoais. Além disso não foram testemunhas de um momento relevante da história, mesmo assim as poucas informações se mostraram corretas como a relação entre a época e os governantes do país/reino. Acredito queaumentando o número de sujeitos de vários níveis culturais encontraremoscasos históricos mais significativos.

-fonte: Carlos Eduardo Cennerelli

-------------------------------------------------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário